Entrei no CAM meio de surpresa. Lançaram-me um desafio de Gulbenkian e eu
pensei: “Sol. Jardim. Memórias. Passeio.” Eu até estava a pensar era em ir ao
cimena!...
Vi-me à porta do CAM, onde já não ia desde a exposição de Amadeo de Sousa
Cardoso há uns meses (e, antes disso, há uns anos) – 1º Domingo do mês: entrada
gratuita.
Não fazia ideia ao que iria, o que veria; apenas fui entrando.
Aqui para nós, tenho uma relação com a pintura um pouco estranha. Porque já
percebi que muitas vezes depende do meu estado interior o que assimilo no
interior face ao que está ao alcance do meu exterior. E o exterior não muda:
pelo menos, em geral, embora hoje em dia tudo possa acontecer.
Entrei pela estação do Cais do Sodré e lembrei-me logo deles. São um
interno que teima em estar presente face a qualquer externo.
Entrei na 1ª sala, mirei a 1ª obra à esquerda e logo, logo o meu olhar se
fixou no corredor do meio, ainda ao longe e que eu sabia que não seria o
percurso que iria seguir no imediato. Mas quedou-se-me.
Fui adaptando o meu interior face ao meu exterior, tentando abstrair-me do
sol e do jardim e das memórias e do passeio e deixando que meu corpo se
entranhasse no facto que era estar no CAM, a ver, a observar e não noutro sítio
qualquer.
Não foi à primeira, nem à segunda, velocidade rápida como acontece quando
este está em vários lugares. Aos poucos se alentando, aos poucos absorvendo,
mas sem encanto.
Primeiro corredor, primeiros cubículos, primeiras obras, seguindo até ao
fundo, dando meia volta e entrando.
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Eu ainda não percebi se
são os nomes que constroem o nosso interior ou se é o exterior que se mete por
dentro do nosso interior. Mas, entrada naquele 2º corredor, já vislumbrado de
longe e, agora, admirado de perto, finalmente entrei. No sol, no jardim, nas
memórias, no passeio. E era o corredor dos nomes. Daqueles com que já nos
deparámos. Mesmo que não associados às imagens. São os que ficam e pensamos
connosco que não pode ser um acaso que sejam estes que puxam nossos olhos como
que chamando por nós.