sábado, 17 de outubro de 2015


Tecnologias.

Nunca fui muito afoita a estas coisas de… “tecnologias”.

(nem vou, aqui, confessar que a cadeira a que mais chumbei naquela coisa nominável e formalmente chamada de IST, foi mesmo “Programação”… Lá a fiz… com alguma batota…)

Bom. Não sou muito dada a essas coisas, mas, desde que tenho um “esperto-que-fala-responde-regista-e-se-move”, lá as vou utilizando.

Meo music, plataformas sociais e profissionais, inbox, weather, booking, youtube (que hoje não me larga desde quase que acordei…), 2houses,, itsappning, google photos (com uma aula personalizada para perceber como funcuiona essa coisa), calendar.

No outro dia (em abono da verdade já havia feito tal coisa antes, mas sem nunca me aperceber de tal pormenor, possivelmente porque o tal do “pormenor” não estivesse tão presente como naquele momento), estava eu no “calendar” registando um aniversário, vira-se o “esperto”, em dado campo, e pede-me para inserir valor em

“PARAR REPETIÇÃO”:

(não vão vocês ou os vossos “espertos” serem mais desatentos que eu ou o meu, seguirá, mais abaixo, comprovativo. Mas não no já, já…).

O tipo atreveu-se a dar-me a escolher:

“após ene repetições”

 “todos os domingos

“sempre, no último dia vinte e nove de cada mês

“até à data de xxx


Armei-me eu Deus e, determinantemente, nominavelmente, inseri o meu mais profundo desejo.

“Parar repetição?

“Nunca”,

meu caro “esperto”.

Embrulha e nunca te esqueças. Fiz questão de deixar registado em teus bits e bytes de ser esperto e incontestável.

Duvidas?

Ora vê:

E vê lá se te atreves a desafiar-me…



(PS - eu não dizia que não era lá muito dada a estas coisas?... depois de uma série de tempo a tentar por a foto que demonstraria o "Nunca" lá bem registado - acreditem, ela existe - desisti... há que ir à vida e há uns "Os" que me aguardam para jantar... pelo que... acreditem, se assim o entenderem...)



Haverá lá cegueira maior?...



“Oh, melancolía”.

Meus queridos sacais. Podem crer que não, mas estão cá.

As ironias, os sarcasmos, o que nos faz sorrir.


Na mesa ao lado
(“te amaré y después te amaré”),
acompanham-me, depois de ter ido ao chinês da Pascoal de Melo e ter comprado uns auriculares que me permitissem estar onde estou e transitar entre o que ouço e o que observo e o que escrevo e o que penso, cinco mulheres sentadas em torno de uma mesa. Idade, em média, pelos setenta e, isso, só estragado pela presença de tenro especimen de uns cinquenta.

São só mulheres. Conversam. Riem. É bom imaginar os seus sonidos.


Portas abaixo (poucas) da outra, da definida (ao contrário daquelas), já em estado indefinido, que já não conversa, só balbucia, palavras sem nexo, pelo menos do comum, “hasta el fin de los tiempos”.

Há dias (definidos), datou-se seu nonagésimo terceiro aniversário. Cinco prédios acima daquele em que me encontro agora. Muito mais definido que este onde me encontro; já muito menos palpável que este onde me encontro, onde posso, -bastando, para isso, atirar uma mão e um dedo - sentir o frio de uma cadeira de ferro, o húmido de um copo, o quente de uma chávena fumegante.

Cento e sessenta e sete, sexto direito.

Ignorar Anúncio

“Ojala”



Percebi, nesse dia, que, para além das juntas que me vão acompanhando em minha vida de manutenção de infraestruturas (estruturadas paredes e pavimentos e redes), como as fracturantes ou as cegas, existem as que, com visão raios-X, são ainda mais cegas que as cegas, as que não deixam passar nada.

Este texto já foi outro. Mas, como já escrevi já para mais que 1 ano, as crónicas são de momento.

Que, de quando em vez, entre o bater na cabeça e o bater nas teclas, se (es)vai. Se transforma.



(“Ojala por lo menos que me lleve la muerte”

“Ojala que no pueda tocarte ni en canciones”.
Ou em orações. Digo eu).



Pômo-nos ouvindo “queira Deus” quando, finalmente, encontramos caneta e papel e momento e determinação para despejar e este já se transformou em outro – mais confuso, mais amargo, mais contido, menos

(“jo no sé lo que es el destino”)

sarcasticamente risível…



Um ano. Mais que um ano. Ao ponto de quase esquecível. Houvesse os que, determinantemente, necessitam.

Um ano (mais que um ano) depois, foi enviada carta com apresentação de indeferimento a pedido de complemento de reforma devido a demência do tipo Alzheimer, previsto legalmente, diagnosticado, formalmente, a contar desde 2008 – apesar de eu saber que não chegaste a saber quem era a definitiva Maria; a que baptizaste de Maricotinhas, mesmo ainda antes de existir.


(“Ya no te espero”, não.

A esperança só é a última a morrer quando nos negamos ver a morte.)


Indeferido. Ao abrigo do ponto 2 do artigo não sei quantos do decreto (definido, porque escrito) que, em simultâneo, o prevê.


(“Porque de esperarte hay odio”)


Ao abrigo de parecer de palavrão-que-não-fixei-mas-que-é-a-comummmente-designado-de-“Junta-Médica”, o qual, de acordo com o texto, não se enquadra no previsto no tal decreto(-de-lei), conforme parecer de 16 de Setembro de 2015.



- Não percebo. A Cia foi vista por alguma junta médica nesta data?

- Não; ninguém cá veio.



Juntas cegas não mentem. Olho para elas e vejo, claramente, uma entrada e nenhuma saída.

Juntas com visão Raios-X são perigosas. Podem, até, ver o que já se (es)foi.

E indeferir o mais que definido em uma só linha.



Cegueira pior será a dos que julgam ver e não vêem.

Os “Os”


Só o viver, definitivamente, nos faz.

Só o viver faz artigo indefinido, singular ou plural, transformar-se em definido, total, plural, e, absolutamente, singular.

Que interessa passar por tantos “um” ou “uma” ou “uns” ou “umas”, se não os transformar-mos nunca em O, A, Os, As?

Que interessa olhar para trás ou vislumbrar o frente e ter: “Um dia, vou…”, “Houve um homem que…”, “Há um músico que…”, “Uma vez, fiz…” sem que tenhamos os “Os” - nos nossos textos, nas nossas memórias, nos nossos futuros, nas nossas estórias contadas ou por contar ou, até, simplesmente sonhadas.

“Solo le pido a diós” que “no final desta viagem” (que ouço agora, mesmo que com outro nome, porque castelhano) olharei para trás e nomearei

todos os homens, todas as mulheres

todos os lugares, todos os momentos

todos os sonhos

todos os dias

todas as esperanças, todas as loucuras

todos os livros, todos os músicos

todos os delírios, todos os orgasmos

todas as desilusões, todas as ilusões

todos os medos, todas as certezas

todos os cantos, ruas esconsas

todas as vidas, todas as mortes

todos os canalhas

todas as lutas, todas as vitórias, todas as perdas

todos os amores, todos os desamores

todas as verdades, todas as omissões

todos os futuros, todos os passados

e verei ver neles definidos artigos singulares (mesmo quando plenos de pluralidade) e adormecerei sobre eles e não mais acordarei, com a certeza e tranquilidade de saber que Os vivi. Determinantemente. Nominalmente. Individualmente.

Se vivo, é graças a vocês: os determinantes; os singularmente plurais; os definidos. Os "Os".

Foi ontem? Será amanhã?



Meus queridos sacais.

Hoje, é, efectivamente, dia dezassete de outubro.

Esta, efectivamente, não foi escrita hoje.

Foi escrita há dias, em caderno (por acaso, ainda vermelho, mesmo que outro), e, até eu, demorei uns minutos a (re)entendê-la, até que data, vivências e emoções se misturaram como deve ser e deram origem a finalmente.

Enquanto ouço, hoje, dezassete de outubro do ano de 2015, “Quien Fuera” (enquanto fora…), depois de “te molesta mi amor” e, penso, mi molesta tu disamor…:



Eles eram muito pequenos quando ficou assim. E, agora, já quase a esqueceram; ela já os esqueceu há tempos. Eles, continuam pequenos. Mas só até amanhã.


domingo, 4 de outubro de 2015

A sorte é para quem a tem



Conheci uma mulher (uma tipa, uma gaja, uma senhora qualquer) que me desatou a falar de sorte e de amor. Ciente de que ambas fazem parte do grande jogo.

Ao contrário dos proverbiais, a sorte havia-lhe batido à porta mais que uma vez, não sabendo, no entanto, se era por ela (merecedora), mas sem nunca ela lhe ter fugido, pelo menos no instante imediato.

De cada vez que a sorte lhe bateu à porta, ela abriu-se – diria que nunca descontente –, mesmo sabendo que esta acabaria (sorte dixit), um dia.

Pagou a sorte com amor (arriscou, também, pagar o amor com a sorte, a sorte com ela própria e o amor com ele próprio) e coração forte, não fosse ela transformar-se em maléfica, o que nunca lhe ocorreu, conscientemente, porque tanto lhe fazia saltar como acolher. Sem escolher idades.

Não tinha tido amores como o primeiro tão simplesmente porque, de cada vez que estes que batiam ao corpo, eram sempre um original (mesmo sendo “um” um artigo muito pouco definido).

Chegou a imaginar morte a tal sorte, mas conseguiu ausentar o suficiente a própria memória em prol de um melhor remédio em face do maior dos males.

Cruzou-se com sortes “tão vivas, tão sãs, tão puras” que as julgou loucas e tudo lhes permitiu, mesmo que em guerra.

O amor não lhe foi cego porque lhe viu os corpos, os olhares, os sexos e o muito mais ao longe, forte, como a morte. Não se sentiu nunca forçada a isso, mas chegou a obrigar-se a ser cega por amor.



A mulher (a tipa, a gaja, a senhora qualquer) não me deu tudo isto (já se estariam os meus queridos sacais questionando “que raio de conversa foi esta!!!”), mas emprestou-me todas estas palavras.

Efectivamente, o que disse (terá dito?) foi:

“Se houve azar que tive ao jogo, foi o de ter tido tanto amor que não soube como o tornar, em cada um dos momentos, em sorte.”


sábado, 3 de outubro de 2015

"How do people become so miserable?”



No outro dia estava a ver uma série qualquer na televisão (bom, na verdade não posso verdadeiramente dizer que a estava a ver, porquanto estava mais distraída que entretida; eu nem a tinha escolhido – desde que o comando se avariou ou ficou sem pilhas, ainda não sei, que carrego no botão do ON da TV e deixo estar no canal que já estava sem dar propriamente muita importância ao que sai do écran, mas aproveitando as vozes para fingir presenças que não estão) quando ouvi:

“How do people become so miserable?”

E li:

“Como é que as pessoas se tornam tão infelizes?”


Eu conheço aquela cara de algum lado (não a encaixo de imediato porque a associo a uma qualquer série cómica e não consigo que os olhos brilhantes de emoção e tristeza façam parte de uma face a que me habituara a ver rir ou ironizar).

Eu também conheço a cara do receptor daquelas palavras de qualquer lado. Ai conheço, conheço. E apercebo-me que o tinha visto na véspera, talvez até no mesmo laboratório de medicina legal, comentando que a sua vida era a ciência e que não tinha espaço para além daquilo, declinando um convite para sair, recusando-se aceitar que havia sentimento para além daquelas portas, olhando de alto todos os que se atreviam a viver.

Olha lá, gaja-que-está-infeliz-mas-cuja-expressão-não-encaixa-em-cara-bem-disposta, mas tu estás à espera que o tipo te dê alguma resposta de jeito? Não vês que ele nunca lá há-de chegar? Não percebes que, para chegares a tamanha tristeza foi preciso teres conhecido uma enorme felicidade? Esse que está à tua frente nunca viveu; não sabe o que é isso; só faz de conta; tu respiras e, se estás absolutamente infeliz hoje, pode ser que amanhã passes a feliz, quem sabe até (ele não; ele não sabe) com um simples estalar de dedos fortuito.


PS – eu já te vi em papéis em que estavas feliz; não deve ser fácil ter de mudar assim tão bruscamente; se se tornar insuportável, despede-te e regressa, sim?


Os sete pecados vitais ou A adaptação da adaptação do original


Fui ontem ao teatro: “SETE PECADOS MORTAIS ou AS TÉCNICAS DE LEGÍTIMA DEFESA”

Gostei. Houve uma ou duas coisas que não consegui reter do texto e em relação às quais pensei que gostava de pedir ao autor que me emprestasse as palavras.

Há que pecar. Concluo eu.


Vamos para o trabalho, desanimados, e deparamo-nos com um problema novo, desafiante e desejamo-lo todo para nós, porque um desafio; porque não estamos preparados para o novo, mas estamos apaixonados pelo que representa; agarramo-nos a ele como se fosse um osso, uma bóia; não o partilhamos e rosnamos a quem se atreva a aproximar-se e a enfrentá-lo e a não nos deixar ganhar.

Chegamos a casa, olhamos para o nosso homem e enchemo-nos de gulodice por aquele corpo e dizemos-lho ao ouvido para que saiba, enquanto dure, que queremos tê-lo sempre mais e mais.

Lemos notícias depois do jantar e odiamos o que os nossos olhos captam; não passamos à frente porque sabemos que é necessário que o mundo ainda nos encha de raiva, para que nos possamos combater a nós próprios e saiamos à rua para travar o que ainda não foi travado e que pode nunca ser travado, mas continuando a acreditar que possa ser travado.

Lembramo-nos, com um estremecimento, dos grandes. E deixamos que o nosso sentimento atinja um culminar de altivez por todos aqueles que sabemos terem lutado, por ira ou sem ira, mas que conseguiram um momento melhor por alguém ou uma causa.

Estiramo-nos no sofá e pegamos num livro ou pomos a nossa mais recente “playlist” do Meo Music e deixamo-nos ir com eles, com os nossos deuses, e pensamos: o que eu gostava de um dia escrever algo que chegasse a estes calcanhares.

Passamos pelo quarto deles – já dormem – não lhes damos beijos porque já dados e tememos despertá-los, deitamo-nos no chão, ao lado, e deixamo-nos envolver pelo fim de mais um dia, não deixamos que a nossa mente se empenhe em mais nada que não seja no ritmo lendo das suas respirações.

Chegamos ao fim de mais um dia e vamos para cama.
Não adormecemos logo, porém.

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Estúpidos

Os ditados são muitas vezes muita estúpidos.

Para quem esteja, já, pensando em "mas onde é que o sacal de hoje vai parar?", respondo:

"Não conheço ditado mais estúpido que o "Quem espera sempre alcança"."

E, por hoje, é isto.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Perdoem-me, mas Foda-se



Olá meus queridos sacais.

Hoje, a meio termo de 2ª semana-não consecutiva, saí do trabalho relativamente cedo (para horário semana-não), entrei no carro, vim para casa, estacionei em lugar que, possivelmente amanhã, quando sair, terei de fazer esforço para recordar, subi, mudei de roupa, aqueci uns restos que tinha da outra semana-não, comi cedo (e cedo é agora, também), determinada a  deitar-me também cedo, para que o dia de amanhã consiga ser longo.

Fiz alguns contactos pendentes, ainda tratei de algum trabalho, relanceei, muito superficialmente, as redes, fechei o telemóvel, liguei a tv em modo canal-de-entorpecimento (neste caso, em mais uma série cheia de mentes perturbadas, que fazem coisas horríveis e que nós vemos sem que nada sintamos, que não um ligeiro torpor de adormecimento) e preparei-me para me ir desligando, embora atenta, em estado de semi-vigília.

Eu não “desliguei”.

Nem “fechei o telemóvel”.

Nem “liguei a tv”.

Eu não entorpeci.

Ao invés, volvei teclas atrás, imagens atrás, memórias, dias e anos atrás e comecei a sentir um calor insuportável, um estremecimento de mãos que vinha de dentro e que me disse, quase num imediato, que não conseguiria fechar sem aqui vir.



……………………………………………………………………………………………………………



Que raio de animal morto somos nós, que precisamos de saltar de uma ponte com os pés presos a um elástico, para nos sentirmos vivos.

Que raio de animal protocolar somos nós, que precisamos de sentir que aquele que amamos nos está a deixar para dizer “eu amo-te”.

Que raio de animal despreconceituoso somos nós, que precisamos de ter um amigo
preto,
homossexual,
mulher,
chinês,
velho,
franzino,
muçulmano,
deficiente,
para que consigamos olhar a diferença sem que nos lembremos, sequer, que ela lá está.

Que raio de animal forte somos nós, que precisamos de cair e nos magoarmos, para sabermos como seguir em frente.

Que raio de animal desatento somos nós, que necessitamos que ocorra o massacre, para que passemos a ser todos Charlie ou todos judeus ou todos americanos ou todos palestinianos ou todos sírios ou todos ucranianos ou todos sérvios ou todos bósnios ou todos soviéticos ou todos espanhóis ou todos indianos ou todos tutsis ou todos... tantos são os todos...

Que raio de animal descrente somos nós, que precisamos de sentir as coisas por um fio, para que nos apercebamos que “as coisas” não são coisas; são tudo aquilo que já lá estava, já existia, mas para onde nunca tínhamos sequer olhado, não tínhamos dado atenção, porque absortos em fazer e ser o que nos é esperado por um outro qualquer animal descrente, mesmo que sendo ele próprio, nós.

Que raio de grandes bestas somos nós, que precisamos (e precisamos) de ver o corpo de uma criança de 3 anos morta à beira da maré de uma qualquer praia turca, para que sintamos que temos de fazer alguma coisa pelas gentes.

E por quanto tempo?

Que raio de animal somos nós, que precisamos de chegar ao limite para que descubramos, de facto, o que queremos ser. Mesmo que este ser não o seja para todo o sempre. Mas que o seja, naquele momento, infinitamente.

Que raio.

E, perdoem-me, mas “Foda-se!”.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Amigos, amigos...



Aí há coisa de pouco mais de 2 anos (como vós, atentos sacais, terão registado), mudei de casa.

Antes de ser baptizada pelos meus como “a casa mini da primavera”, exigiu alguma energia - que fui encontrando conforme pude e tive que – por forma a que o espaço envolto pelas diversas paredes, janelas e porta (nunca percebi bem a insistência em reduzir a só quatro paredes as nossas casas, mesmo porque, uma só parede, pode ser, por si só, pelo menos duas, já que podemos ter, de um lado, a parede da sala, sendo esta, também, a parede da casa de banho, bastando, para isso, apenas sair da sala, virar à direita no corredor, entrar na primeira porta, também ela à direita, e olhar para o mesmo elemento físico e constatar que é também a parede da casa de banho) se fosse transformando em, efectivamente, casa e não só um espaço mesmo que com direito a fotos em “site” de imobiliária de Algés.

IKEA, Continente, Casa, várias horas de montagem, um pedido de empréstimo de energia eléctrica para uma extensão gigante que vinha dos “vizinhos-to-be” do piso de baixo, algumas ofertas e compras de bens em 2ª mão, contratos disto e daquilo e lá se foi mutando o espaço.

Como não podia deixar de ser numa casa feminina-e-maternal (na verdade, até hoje, nunca soube responder de imediato à pergunta “quanto pesa o seu filho/a?”), uma das aquisições desde logo de início foi uma balança. IKEA, redonda e com relógio incorporado (o qual, já há meses, deixou de funcionar por falta de pilha).

Coloquei-a estrategicamente à entrada que é também saída da casa de banho, sob uma prateleira de pedra mármore (que faz parte das mais-que-quatro paredes da casa), exigindo que, para que entabulasse conversa com ela, me baixasse, a puxasse lá debaixo e, só depois, me aventurasse sobre a dita.

A nossa relação começou tímida. Na verdade, com tanta azáfama de reinício de vida – vocês não imaginam a quantidade de coisas que fazem falta numa casa pronta a habitar – nos primeiros tempos esqueci-me que existia.

Depois foram eles que começaram a achar-lhe piada, a dar-lhe trela, a ver se já tinham aumentado mais um bocadinho, na proporção directa do tempo que se via passar também por ela, com os seus braços assimétricos e de movimento regular.
-       Esta balança é fixe!
-       Mãe, já peso mais 4 quilos do que no ano passado!
-       Anda lá tu pesar-te! Ficamos as duas a ver quanto dá!

De facto, pensei, comprei eu uma balança e ainda não lhe liguei nenhuma, coitadita…

Aproximei-me resoluta, seus braços informavam-me que eram sete e vinte da tarde, encaixei meus pés junto aos pequeninos da M., olhei para baixo e:
-       Ó Maria?! Quanto é que tu disseste que estavas a pesar?...
-       Vinte e dois, mãe!

Saltei imediatamente do electrodoméstico para baixo (o que, felizmente, não eram mais que uns 2 ou 3 centímetros) e, rápido:
-       Bom. Tenho de ir preparar o jantar!

Passei a noite a pensar se teria feito bem a subtracção ou se, dada a hora e mês, não estaria inchada ou com retenção de líquidos pelo calor ou qualquer coisa do género. Acordei ansiosa (não tanto que prescindisse do Nescafé matinal), tomei um banho, sequei o cabelo para que não houvesse gota a mais sobre o meu corpo, aproveitei para ver as horas - eram nove e quinze de uma manhã de Sábado – pus um pé, de seguida o outro, expirei fundo e… zuca; olhei para baixo.

Novo salto:
-       Sua estúpida, sua ingrata! Mas tu estás parva, ou quê?

As crianças – que, felizmente, já estavam acordadas – precipitaram-se fora do quarto para o corredor onde eu me encostara à parede e:
-       Que foi, mãe? O que se passa?
-       A-que-la coisa ingrata que ali está – e apontei – é uma grandessíssima de uma aldrabona!
-       Qual coisa, mãe?
-       A parva da balança, claro!
-       Mas olha que não, mãe. Eu pesei-me na balança da avó na semana passada e deu exactamente o mesmo…
-       Chiu! Não digam disparates!
-       Mas a sério que sim, mãe. Ela ontem disse-me que eu pesava vinte e cinco que foi o que a da avó me disse também…
-       Não quero saber nada disso. A mim, ela anda a enganar-me. Inadmissível. Uma ingrata!

Tentei domá-la em algumas semanas. Chamava-lhe nomes, dava-lhe patadas, punha-me de bicos de pés para não a melindrar. Nada demovia a dita cuja de me atirar com quilos de mentira para cima.

Na última semana antes de ir de férias de verão, resolvi não lhe tornar a falar.

Regressei passadas duas semanas, olhei-a de cima e pespeguei-lhe com um par de olhos de puro desdém.
-       Pfffffff…… Estúpida…

Sempre que começava “semana-sim”, normalmente após o banho, as crianças perguntavam:
-       Então a balança? Ainda anda armada em parva?
-       Não sei – repondia-lhes – não lhe falo já para mais de vários meses. Cortei relações com ela. Pffff…

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Próprio de espírito de época, lá para fins de Dezembro, decidi que, custasse o que custasse, não haveria de me deixar rebaixar por uma mísera balança de casa de banho, mesmo sendo esta bivalente e me ajudasse a ver o tempo passante.
-       Bom, sua parva. Não há-de ser por tua causa que vou passar a achar que tenho problemas de socialização.

Desta feita, não fui de ligeirezas, atirei-me com ambas as palmas dos pés de uma só vez, em salto de 2 ou 3 centímetros, olhos directos para baixo, nem vi as horas, ponteiro desirmanado para a direira, para a esquerda, saltitante em “dégradé” de redução de velocidade, até que foi estacando, foi estacando, foi estacando…

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A nossa relação nunca foi das melhores. Lá isso é verdade. Hoje em dia não penso já que seja um problema de socialização, porquato não o fui sentindo conforme o ponteiro se atrevia a ir cada dia mais além.

Mas, quando vivemos durante algum tempo (neste caso, mesmo que os menos atentos sacais saberão que por já mais de dois anos) com um mesmo electrodoméstico, acabamos por lhes ir conhecendo as manhas, aquelas teimas que mais não são que chamadas de atenção, aquelas outras que são teimosia de quem já nasceu assim – neste caso, directo, bruto, indo logo ao assunto, mesmo que, porventura, magoando quem nos quer apenas conhecer ou dar-se a conhecer um pouco melhor, mesmo que por intermédio apenas de duas palmas de pés e um olhar atento a ver se o ponteiro se descai.

Temos mantido uma relação cordial.

Eu já não lhe chamo nomes e ela tem tentado aumentar-me em ego e reduzir-me em quilo.

Dir-se-ia que uma relação perfeita.

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Vim de férias.

Antes de vir de férias para aqui, estive de férias mais lá para cima, na Guarda.

Tenho estado entre amigos. O que será o mesmo que dizer: tenho estado com quem posso falar sobre o tempo, as crianças (nas suas particularidades), os calções que me estão apertados, o trabalho, outros amigos, o passado, o futuro, viagens, sonhos, mesmo que disparatados, de infância, histórias de adolescência. Enfim. Amigos até ao ponto de, em querendo, nem falar de nada.

Alugámos uma casa por uma semana e é muito pouco tempo.

Na verdade, já no ano passado (e, em outros muitos cenários) estivémos juntos, mais ou menos sempre por uma semana.

Desta feita, parece-me muito pouco, o tempo.

E tudo porque, nem sei que horas seriam já que a parvalhona nem isso me soube dizer, decidi por as palmas dos pés na famigerada que, alguém muito insensível decerto, resolveu deixar perfeitamente acessível para qualquer um cair na esparrela de, em férias, ser simpático e iniciar uma tentativa de podólogo.

E, digam-me, como é que eu, em 7 míseros dias, vou conseguir empatizar com uma estúpida sem jeito nenhum e pálida que me olhará sempre que for tomar banho e me dirá:
-       Eu já te conheço… oh, se te conheço…

Parva… Ela que não julgue que me desmancha o prazer, a lambisgóia…

Ela, e o seu amigo espelho, mesmo defronte. Não julguem que eu já não o topei, não... Malandro...

domingo, 26 de julho de 2015


Aí há uns poucos de dias escrevi sobre férias (des)planeadas.
Em viagem, a coisa tende a complicar quando não sabemos com exactidão o que procuramos, quando vamos.

(engraçado escrevinhar sobre viagens quando em ouvindo “When in Rome” dos Penguin Cafe Orchestra - o que não ouvia há anos e me ocorreu hoje ouvir enquanto teclando no novo Lenovo que acabo de adquirir por forma a que as minhas vidas tantas não se misturem mais do que já andam imiscuídas - quando, já há muitos anos, tinha eu uns 14 ou 15, fiz um filme-imagem ao som deste cd, que era uma viagem, tão só uma viagem… coincidências)

Às vezes, proocuramos algo e encontramos outro algo que nos enche tanto que nos esquecemos do primeiro algo que nos tinha abocanhado naquele período de viagem – quem já se perdeu pela ilha das Flores, ou qualquer outra ilha de Vida, sabe perfeitamente do que estou escrevendo.

Estranho é (pelo menos para os que nos tentam parar ou perante os quais paramos, mesmo que sem dar por isso) quando não sabemos o que procuramos ou, mesmo sabendo (em ideia), não conhecemos, ou conhecemos, em tempos, mas deixámos de conhecer e de saber como explicar.

Basta imaginar - estamos indo, em direcção a “lá”, paramos o carro, abrimos a janela e:
-       Olhe, desculpe, boa tarde.
-       Boa tarde.
-       Podia informar-me como vou?
-       Como vai?
-       Sim. Como chego lá.
-       Como chega lá, onde, minha senhora?
-       Como assim, onde?
-       Sim, onde? Para a ajudar a chegar, ser-me-ia útil saber onde quer chegar…
-       Eu quero ir para .
-       Para
-       Sim. Senti que seria por aqui. Pode confirmar?
-       Se posso confirmar… Lá é lá. Pode descrever?
-       Descrever? Sei que é para que quero ir. Trago a minha bagagem toda. Trinta e nove anos dela, mais nove-a-caminho-dos-dez e mais sete-a-caminho-dos-oito, que me têm acompanhado a chegar. Não sei por onde vá, mas sei exactamente que é que quero chegar.
-       (coçando a cabeça…) Bom… siga em frente, então. Pode apanhar umas curvas pelo caminho, uma ou outra bifurcação onde terá de escolher um sentido, mas estou certo que há-de chegar…

Seguimos em frente.

Apanhamos curvas com as quais contávamos e outras, apelidadas de contracurvas, que nos surpreendem e nos obrigam a guinar o volante do caminho, encaixarmo-nos na faixa, porque temos medo das alturas e não gostamos sequer de imaginar o que nos aconteceria se, não contracurvando, nos precipitássemos fora da estrada, por ali abaixo, por ali abaixo; chegamos às bifurcações e apercebemo-nos que o “” pode já não ser o “” com que partimos e onde queremos chegar e viramos à direita, quando em todas as anteriores virámos sempre à esquerda, na esperança de, mudando o “” ou o caminho para o “”, não nos deixarmos entrar num remoínho de estradas, todas para o mesmo lado, porque arriscar a mudar de lado, como a palavra o diz, é um risco, mas se feito com convicção, ou porque descobrimos, entretanto, que seguir sempre o Sol - à vista, em cima - não significa que nunca encontremos a Lua, entretanto. Mesmo que, ela própria, em cima.

Os mais apaziguados perceberão que estou a falar de viagens; de férias (des)planeadas; de caminhos para ; de nada mais que isso.
Os mais atrevidos poderão achar que misturo ideias.

Para esses, porque aprecio alimentar, poderei encontrar aqui um mote. Um paralelismo com o “”. Apenas para que “” se agarrem, vou tentar encontrar forma de alimentar esta ideia (sem qualquer tipo de solidariedade em vista) dentro do sacalmente falando.

Ora bem….
Deixem cá ver…
Ir para

……………………………………………………………………………………………………………

Bom… não querendo influenciar ninguém e, muito menos, dirigir…
Imaginem o mundo. Por exemplo. Aquele que vos rodeia.
Por exemplo. Para onde caminham? Para onde pretendem caminhar, quando em nisso pensam?

Para onde? Não ouvi todas as respostas…
Ah. Ok. Portanto, a maioria do Mundo que vocês conhecem pretende caminhar para a Felicidade.
Digamos que é um ponto de chegada…
E onde é isso?
Como? Não sabem? Sabem às vezes?
Diria que estão perdidos, então. Portanto, esses vossos amigos, esse mundo que vos rodeia, quer ir para “”, mas não sabe por onde, nem sequer como descrever a um qualquer que os pare – no seu caminho – ou que eles fazem parar – no seu caminho.

Entendo.
Seguramente, entendo. Voltando aos Açores, uma vez queríamos encontrar uma lagoa em fogo que não sabíamos descrever e encontrámos um fogo que se espraiava pelas nuvens que sobrevoavam o carro, enquanto, em baixo, víamos, espaçadas, manchas de líquido feito água, reflectindo o que víamos no céu e, dei por mim, olhando para cima, encantada, enquanto que esperava, antes, ver meu olhar dirigido para baixo, para , para ela, a Lagoa do Fogo, que nunca vi, apenas no reflexo superior do meu olhar.

Portanto, sim: compreendo. Eu sei do que estão a falar.
Bom… digamos que (não) estaria à espera desse paralelismos de “lás”.

Vejamos o que posso fazer para ajudar.
Pode parecer um exemplo complexo, à primeira vista, mas, diria, talvez mais simples do que se possa imaginar. Talvez o mais simples de todos. Quase banal.

Se não, vejamos:
-       Todos a procuram
-       Ninguém a sabe descrever
-       Mesmo que, num determinado momento, alguém a descreva, de forma assertiva, sem qualquer sombra-núvem de dúvida, a probabilidade de a descrever, no exacto momento seguinte, de forma diferente é bastante elevada;
-       Tende a variar de forma mais rápida que a luz (e, consequentemente, que a sombra), quer dentro de um próprio corpo, quer entre corpos.

Portanto, tão simples e banal como isto. Diria, até, universal.

Eu atrever-me-ia, hoje, a todos os quantos que têm a quem sugerir algo sobre caminhos, o seguinte:
-       Olhe, desculpe, boa tarde.
-       Boa tarde.
-       Podia informar-me como vou?
-       Como vai?
-       Sim. Como chego .
-       Como chega , onde?
-       Como assim, onde?
-       Sim, onde? Para ajudar a chegar, ser-me-ia útil saber onde quer chegar…
-       Eu quero ir para . Hoje, tendo de descrever porque procurei uma mão para me guiar, terei de dizer – é onde, em cada minuto em que acordo, decido ser a melhor, para mim e para os que me estão próximos, sem necessariamente uma consequência entre um estado e outro, mas estando eles absolutamente consequentes, mas sem dar por isso, assim de forma naturalmente simples, como que acontecendo; é onde, em cada minuto em que acordo, olho para trás e vejo que estou cheia, houve o que custou, mas encheu de tal forma que transbordou porque cheio de plenitude, porque cheio de cheio, simplesmente cheio; , eu encontro-me e não deixo de ser como sou; só tenho de o encontrar (des)planeadamente… só para ser surpresa. Entende?
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-       (coçando a cabeça…) Bom… siga em frente, então. Pode apanhar umas curvas pelo caminho, uma ou outra bifurcação onde terá de escolher um sentido, mas estou certo que há-de chegar…

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domingo, 19 de julho de 2015

Toda a verdade e não mais que a verdade


Por que razão mentimos?

Falando de verdadeiros, claro. Não contam os patológicos, os que o fazem quase sem saber, aqueles para quem uma mentirinha, daquelas quotidianas, pequeninas, sai sem custo, que nem cuspo escorre do canto da boca de velho que já não é.

Por Amor. Podemos mentir por amor. Tão verdadeiro é isto, como o é “podemos ser verdadeiros por amor”. Porque a vida se transforma, por vezes, em verdade, mas também acontece ela transformar-se em mentira e essa mentira consegue ser tão real que se transforma em verdadeira, porque a realidade é um dos reflexos de tantos olhos como os que se atrevem a olhar para ela e se olharmos para a vida-mentira com olhos verdadeiros, o que vemos é a vida-verdade. Tão certo, como o contrário pode acontecer. Se deixarmos que a vida-verdade, de tanto ter de o ser, nos deixe esquecer da razão porque os verdadeiros, por vezes, muito raramente (porque têm de atraiçoar os olhos, a boca, as mãos verdadeiras que constroem sempre o corpo de um verdadeiro), mentem. O Amor.

Por ser verdade que a realidade é um dos reflexos de tantos olhos como os que se atrevem a olhar para ela, há outra razão pela qual os verdadeiros mentem. Quando fecham os olhos para dentro e tudo se torna breu e já nenhuma luz incide na vida para que esta possa reflectir a realidade. Aí, não se distingue mentira de verdade porque, no escuro, principalmente se este for para dentro, a energia também se vai e, sem ela, não há luz; não ocorrem reflexão, absorção ou refracção.

Portanto…
Esqueci-me de onde queria chegar, ou entretanto fechei os olhos.
Mas abro-os já de seguida.
Prometo.
Toda a verdade e não mais que a verdade.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Férias (des)planeadas a mais do que 200%!!


Apesar de aparentar não, planeio as férias com muito cuidado.

Faço lista de coisas a levar, normalmente separadas por colunas “eu”, “nós”, “eles”, “higiene”, “a tratar antes de ir”.

Faço questão de tratar dos pendentes maiores que me pesam às vezes há meses, antes de me colocar “out of office”, mesmo sabendo que será apenas por uma semana, mas só pelo facto de “ir de férias”.

Desta feita, até um mapa (em papel) me resolvi a comprar. Não utilizaria (e não utilizei) dados para não me perder. Apenas o Sol, os transeuntes e um mapa em papel para me ajudar. À moda antiga. (Ninguém pergunte se me perdi ou não, por favor)

Destino: Viana do Castelo e etc.

Tudo mais que organizado, porque, pelo menos uma vez por ano, gosto de planear férias em regime de exclusividade com as minhas crias.

 
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Planeio que vou por 1 semana e, no regresso, afirmo que foram 3 meses, porque as férias devidamente (des)planeadas nunca se regem por ordinários calendários lunares.

Planeio abastecer o carro à saída de Lisboa com o depósito já a roçar o fundinho para usufruir ao máximo do desconto do Continente, mas deparo-me com o Multibanco fora de serviço e ponho apenas 10€ e paro para abastecer de novo passados poucos quilómetros e descontos zero.

Planeio sair em Matosinhos e seguir junto à costa, para Norte, mas aparece-me um enorme Porto de Pesca pela frente que me obriga a separar-me do mar e voltar à via rápida para sair para o destino planeado. (Era só olhar para o mapa, Rita!!! E não é propriamente um porto desconhecido!!!)

Parece-me uma boa ideia passar pelas piscinas de Leça da Palmeira, comer um peixe fresco e tomarmos o primeiro banho das férias por ali, mas está vento e frio, almoçamos num McDonald’s e ficamos uma horita ou pouco mais, bem agasalhados, frente ao mar, apenas a inspirar.

Penso em apanhar a auto-estrada lá para os lados de Vila do Conde, mas dou por mim em estradas não mapeadas, não indicadas e muito solitárias, acabo por questionar um ciclista e volto para trás após uns ainda bastantes teimosos quilómetros, para entrar na dita pouco abaixo da Praia do Mindelo.

Levo comigo o livro que estou a ler e mais um para aproveitar todos aqueles momentos em que “não tenho nada para fazer”; abro o livro na primeira noite, adormeço em cima dele após um par de linhas e não mais o abro e nem chego a ver o segundo.

Vejo o tempo que se fará sentir durante a semana antes de partir, verifico que está frio no primeiro dia pelo que agendo ida a Espanha em passeio, com casacos mais quentes, e passamos um dia com um calor enorme, não vestimos mais que t-shirts o dia todo, mesmo quando a noite cai e vamos para o parque infantil à beira Rio.

Resolvo-me a ter um primeiro jantar num dos restaurantes antigos famosos da cidade, passo pela entrada a agendar mesa para daí a uns minutos, regresso depois de uma volta pela Praça da República, preparo-me para escolher mesa e dou por mim a dizer. “eu peço imensa desculpa, isto nunca me aconteceu, mas acontece que o meu filho não suporta o cheiro do vosso restaurante, pelo que teremos de ir a outro. Lamento.”.

Marco uma aula privada de surf para os pimpolhos, mas chegamos e afinal é em conjunto com uma série de outros de uma colónia de férias e afinal é body-board, eles bem tentam, mas a nortada é de tal forma que se vêem pranchas a voar praia-sul; a M. sai mal põe um pé na água e diz-me: “Mãe. Há uma coisa que eu odeio que é não sentir o meu corpo”; J. pouco depois e explica: “Sabes, mãe. É que aqueles meninos não sabem que nós somos do Sul e que lá a água é mais quentinha e que nós não estamos habituados a isto.”

Decido que vou jantar a um restaurante mais barato na 2ª noite, passo por um, passo por outro, analiso ementas à porta, descarto-os e entro sem analisar no que me parece ser uma taberninha simpática e pago a refeição mais cara de todas as férias. Com um divinal leite creme de sobremesa, é um facto.

Planeio que vou subir ao Monte de Santa Luzia, descer e almoçar uma sopa rica de peixe na Praia Norte, e subo ao Monte, mas não me aproximo da beira, nem sequer vejo a vista, embrenhamo-nos pela mata de chinelos de praia e fatos-de-banho à procura de uma povoação romana por entre as silvas, encontramo-la, bem como a um casinhoto com toalhas do Noddy a secar, paro numa cafetaria para comermos um gelado e acabamos por, mesmo ali e depois do gelado, almoçar uma francezinha e dois cachorros.

Planeio passar pela cidade durante o dia para encontrar umas lembranças, mas todas as que me aparecem à frente levam ovos e são fresquinhas, do dia, e descubro que estou é com fome e vou almoçar de mãos a abanar e quando saio nem me ocorre voltar a procurar a não ser postais – que descubro ser objecto em vias de extinção -, mas, pelo menos esses e depois do velhote ter de ir ao refugo da loja, compro e com um desconto de não sei quantos, mas muitos, por cento.

Planeio que vou à praia para Norte e que depois sigo para tomar banho numa cascata na Serra, mas saio do hotel, volto atrás assim que as primeiras gotas tocam o pára-brisas para apanhar os impermeáveis, vou à praia para Sul, nem chego a usar os impermeáveis e rumo pelo vale do rio até à quinta e família sem me fazer avisar. Na verdade, tendo-me avisado para o dia seguinte.

Não me passa pela cabeça veranear e regresso com um bronze equivalente a 15 dias passados no Algarve.

Planeio tirar-nos uma foto em que se veja a Ponte Eiffel, ao fundo, em que se veja o funicular, em moldura, em que se veja a fachada da casa dos avós, em contraluz, em que se vejam caras sorridentes e menos sorridentes desenhadas em vidros de janela de zona piscatória e apenas aparecemos nós, despenteados, por vezes cortados, mas lá, contudo.

Planeio ir à feira e comprar algo tipicamente vianense, escolhido por eles, fofinho, pequenino, sem botões ou protuberâncias para que possam levar para as recém-nascidas e acabamos por trazer uns polvos em crochet. Very typical!

Planeio exclusividade e, no regresso, passo as fotos e vejo amigos de longa data, família e festas de aniversário.

Bato o record absoluto do (des)planeamento quando, 5ª feira, me decido a perguntar na recepção do hotel se há possibilidade de estender a minha estada até Sábado, o senhor consulta os registos, e me informa:
- Mas, minha senhora, a sua reserva já é até Sábado…
(esta, foi a primeira vez…)

 
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Apesar de aparentar não, (des)planeio as férias com muito cuidado.

E têm corrido divinalmente. Graças a nós. Claro.

(Até ver, ainda não nos falhámos aos planos e temos estado presentes. Até ver. Claro)