sábado, 7 de fevereiro de 2015

Ninguém me leva a mal, pois não?


Fui, no outro dia, ver o concerto do Jorge Palma alusivo aos 25 anos passados sobre “O Bairro do Amor”, no CCB.

Vin-te-e-cin-co-a-nos…

Tinha mais ou menos os bilhetes desde Dezembro - aquela época tão conhecida e chamada de “dias-que-antecedem-o-Natal-e-em-que-desejamos-encontrar-a-coisa-certa-para-a-pessoa-certa-ou-caso-contrário-preferimos-nem-pensar-em-comprar-a-coisa-não-certa” - mas, naquela noite, sentia-me cansada, desiludida, demasiada confusão enchia-me a cabeça, o coração e alma. Tinha conseguido, apesar de não o prever, sair “cedo” do trabalho (uma prorrogação não esperada adiara a longa tarde e início de noite que nos esperavam – à cautela, já havia dito por diversas vezes “eu dia 28, eu na quarta-feira, eu amanhã, eu hoje, vou a um concerto às 21:00…”) e aproveitei a deixa e a pouca vontade, para me deitar durante cerca de uma horita ou pouco mais no meu apaziguador sofá, antes de ser apanhada para me dirigir ao dito. Mesmo considerando que uma ida em cima da hora implicaria jantar naquele local que eu tão adoro de seu nome McDonald’s (em abono da verdade, não tinha mesmo fome nenhuma, pelo que oito nonos de um pão com uma massa estranha lá dentro a que chamavam nos “placards” de bifana, foram mais do que suficientes para me encher todo o cantinho mais recôndito do meu aparelho digestivo, incluindo boca – que não só mastiga, bem sei, também faz outras coisas estupendas, como bocejar, beijar, tremer ou vociferar).

(que chatice! Vocês já sabem que eu me perco de quando em vez e nunca, mas nunca me avisam que eu já vou a disparar para todo o lado menos para o centro do meu cérebro!!! Tenho sempre que ser eu a aperceber-me! Que canseira… E, depois, tendo sempre a passar para o passo seguinte com um “Bom.”, como em jeito de regresso, o que já me soa a, por demais, repetitivo…).

Mau.

Mal, ia eu; pensando com o fecho do meu casaco mais quente o qual, em pleno Inverno, resolveu que não se deixaria encaixar mais em meio com meio (meio fecho com meio fecho, leia-se), à boleia em carro semi aquecido, “estou tão cansada… só desejo que o gajo se apresente minimamente em condições ou digo mal da minha vida durante, pelo menos, uma boa eternidade”.

 

Lights down. As grandes, brancas, indiferenciadas, estáticas. Lights up. Em foco, vermelhas (e outras cores, sem dúvida; eu tenho uma tendência para fixar o quente), perfeitamente dirigidas, enquadradamente bailando.

 

Dei por mim num prazer imenso, num incansaço indefinível, numa energia reencontrada, num ouvir só meu, num balancear sapateando à Bob Dylan de mim para mim. Como raio aquele gajo, em cada palavra que dizia, me encontrava e atingia exactamente como se tivesse escrito, naquele momento - mesmo todas aquelas que eu já conhecia aos assaltos e de meio para fim, para início, regressando a meio, salteando que nem M. quando avança no seu “normalmente” rua acima, rua atravessada – Só para mim. O Jorge (mesmo com fífias de voz pontuais nas de há vin-te-e-cin-co-a-nos atrás), o piano, a viola, todos aqueles músicos fenomenais, o tipo que pôs a luz que vi sempre, mesmo naqueles diversos momentos em que meti os olhos para dentro, todos eles, tinham ido ao CCB Só para me dar lume, Só para eu continuar, Só para existir para mim, sem qualquer dúvida, sem hesitar, abrindo as minhas janelas Só para voar para o lado todo certo da noite. Se houve sacrifício, Só me fez bem. Um sonho onde eu fui eu e que morreu depressa demais para tratar para todo o sempre as minhas nódoas negras sentimentais, mas que se tornou eterno enquanto durou.

 

Fosse Jorge Palma no dia vinte e oito de Janeiro ao vivo no CCB um livro e teria cada verso uma dobra em seu canto.

Não sei se todos os outros que lá estavam não terão sentido o mesmo.

É um privilégio ir ver um concerto em que cantam Só para nós.
 
Teria sido imperdoável não ter vivido.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Monstros das Casas



Atenção, prestem muita atenção...

Já percebi que muitos sabem da existência (embora não tenha ainda conhecido quem tenha visto) do famigerado Monstro das Meias que vive na nossa máquina de lavar. Até há uns tempos, sentia-me algo envergonhada de falar dele, porque julgava que só rolava pelos meus tambores (no plural, porque me foi seguindo de máquina em máquina), mas, por sorte e alívio, um dia o meu amigo H. declarou a existência de idêntico ser em sua casa e, como a confidência se deu em pleno Facebook, pude constatar pelos imensos comentários que li na altura, que, afinal, ele era bicho que deve vir já de fábrica.

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A minha primeira casa já havia sido também a primeira casa que habitara, com os meus pais, passando depois a ser a casa do meu pai, a qual se transformou em casa de ninguém, excepto em férias aquando da vinda deste e da R. a Portugal, e local de poiso em várias longas tardes que por lá passei – sozinha, com amigos, com amiga – em fins-de semana passados na zona.

Ou seja, na minha primeira casa, para onde fui dezoito anos depois da já sua existência variada, tinha colheres, facas, garfos, copos, chávenas, panelas, de vários tipos, eras, cores, estilos e marcas (mesmo que a maior parte já esbatidas). A cozinha era pequena e viviam todos apertadinhos e misturados por ali.

Ocupei a minha segunda casa em jeito de 2ª mão. Era a casa onde vivera a avó do R. até havia pouco tempo. Guardámos umas coisas, levei alguns utensílios de cozinha comigo, alguns móveis, comprámos uns quantos (numa ida ao IKEA, ainda em Madrid) e herdámos outros. A cozinha era média, móveis só de um lado, comprida, mas estreita, mais que suficiente para nós. Não tinha muitas gavetas, estava tudo a monte e íamos tirando mais ou menos conforme calhava.

Quando mudámos de casa - esta “nova” já desocupada pelos seus anteriores proprietários havia alguns meses -, claro está que acarretámos (não só nós, como imaginarão) todos os nossos tarecos connosco (deixámos apenas uma tábua em jeito de prateleira com quase 4m que viera da minha primeira casa, por não caber em qualquer meio de transporte disponível, na garagem). A casa era bastante maior, a cozinha tinha imensas gavetas e armários, a vida era, também ela, nova, pelo que passámos no caminho pelo IKEA (felizmente que à data, já em Alfragide...) e similares, de onde trouxemos de tudo um pouco e uns conjuntos novos de copos de vinho, copos para água, facas e garfos (só de carne, os suecos não devem comer peixe como nós…), colheres de sopa, de sobremesa, de chá (os suecos, definitivamente, são mais saudáveis porque não põem açúcar no café). Tínhamos uma gaveta para os utensílios maiores, outra para colheres de pau, outra para os talheres novos e outra para a panóplia dos velhos (a qual dava muito jeito para festas com muita gente ou sempre que comíamos peixe).

Mudei-me faz hoje uns tempinhos. Aqui tinha: 1 esquentador e 1 fogão. De casa trouxe enchimentos para móveis que não existiam ainda e uma mesa de cabeceira - ainda da minha primeira casa, ainda do tempo em que lá vivera primeiro.

Na feira da ladra ainda me atrevi a olhar para um faqueiro

- é de prata, minha senhora!,

mas achei caríssimo e só percebi que não era quando, uma vez, vi uns faqueiros na montra de uma loja a sério. Mas consegui de lá trazer uns copos de vinho de diversos tipos e uma queijeira (e com faca!), a qual raramente uso.

IKEA para tudo o resto. Bom. Quase tudo – desta vez, não dei nova oportunidade aos suecos com os talheres e optei pelo Continente, onde comprei:

·         doze facas de carne

·         doze garfos de carne

·         doze colheres de sopa

·         seis facas de peixe e de sobremesa

·         seis garfos de peixe e de sobremesa

·         seis colheres de sobremesa e

 - tcham, tcham, tcham, tcham!!!! –

·         várias colheres de café!

(não percebi ainda de onde vem esta regra dos "seis" e múltiplos para os talheres, mas há-de ter certamente uma razão qualquer que um dia vou descobrir).

Estão distribuídos por duas gavetas e sempre de forma bastante organizada, pelo menos quando por mim arrumados.

Mas…
 

Atenção, muita atenção…
 

Ou é o mesmo ou um seu primo.

Não sei. Ainda não o vi.

Sei que não vive em máquina, simplesmente porque ela não existe. Não sei onde se esconde, mas o gajo anda por cá…

Papando facas, garfos, colheres, de forma absolutamente indiscriminada, sem olhar a curvaturas ligeiras, sem qualquer medo de cortes ou espetos, sem qualquer respeito pelo açúcar que aguarda no café. Ataca-os a todos!

 

Meias? Isso não é nada! São suaves e, certamente, de fácil digestão. Agora uma faca de peixe?!! Este tipo é perigoso e deve ter estômago de aço…

 

Bom. Por agora tenho de ir. Só tenho uma frigideira e vou ver se compro um baú com aloquete rapidamente ali no chinês do bairro.

 

 

PS – O Omeprazol também desapareceu…