Fui, no outro dia, ver o concerto do Jorge Palma alusivo
aos 25 anos passados sobre “O Bairro do Amor”, no CCB.
Vin-te-e-cin-co-a-nos…
Tinha mais ou menos os bilhetes desde Dezembro - aquela
época tão conhecida e chamada de “dias-que-antecedem-o-Natal-e-em-que-desejamos-encontrar-a-coisa-certa-para-a-pessoa-certa-ou-caso-contrário-preferimos-nem-pensar-em-comprar-a-coisa-não-certa”
- mas, naquela noite, sentia-me cansada, desiludida, demasiada confusão enchia-me
a cabeça, o coração e alma. Tinha conseguido, apesar de não o prever, sair “cedo”
do trabalho (uma prorrogação não esperada adiara a longa tarde e início de
noite que nos esperavam – à cautela, já havia dito por diversas vezes “eu dia
28, eu na quarta-feira, eu amanhã, eu hoje, vou a um concerto às 21:00…”) e aproveitei
a deixa e a pouca vontade, para me deitar durante cerca de uma horita ou pouco
mais no meu apaziguador sofá, antes de ser apanhada para me dirigir ao dito.
Mesmo considerando que uma ida em cima da hora implicaria jantar naquele local
que eu tão adoro de seu nome McDonald’s
(em abono da verdade, não tinha mesmo fome nenhuma, pelo que oito nonos de um
pão com uma massa estranha lá dentro a que chamavam nos “placards” de bifana,
foram mais do que suficientes para me encher todo o cantinho mais recôndito do
meu aparelho digestivo, incluindo boca – que não só mastiga, bem sei, também faz
outras coisas estupendas, como bocejar, beijar, tremer ou vociferar).
(que chatice! Vocês já sabem que eu me perco de quando em
vez e nunca, mas nunca me avisam que eu já vou a disparar para todo o lado
menos para o centro do meu cérebro!!! Tenho sempre que ser eu a aperceber-me!
Que canseira… E, depois, tendo sempre a passar para o passo seguinte com um “Bom.”,
como em jeito de regresso, o que já me soa a, por demais, repetitivo…).
Mau.
Mal, ia eu; pensando com o fecho do meu casaco mais
quente o qual, em pleno Inverno, resolveu que não se deixaria encaixar mais em
meio com meio (meio fecho com meio fecho, leia-se), à boleia em carro semi
aquecido, “estou tão cansada… só desejo que o gajo se apresente minimamente em
condições ou digo mal da minha vida durante, pelo menos, uma boa eternidade”.
Lights down. As grandes, brancas, indiferenciadas,
estáticas. Lights up. Em foco, vermelhas (e outras cores, sem dúvida; eu tenho
uma tendência para fixar o quente), perfeitamente dirigidas, enquadradamente bailando.
Dei por mim num prazer imenso, num incansaço indefinível,
numa energia reencontrada, num ouvir só meu, num balancear sapateando à Bob
Dylan de mim para mim. Como raio aquele gajo, em cada palavra que dizia, me
encontrava e atingia exactamente como se tivesse escrito, naquele momento -
mesmo todas aquelas que eu já conhecia aos assaltos e de meio para fim, para
início, regressando a meio, salteando que nem M. quando avança no seu “normalmente”
rua acima, rua atravessada – Só para mim. O Jorge (mesmo com fífias de voz pontuais
nas de há vin-te-e-cin-co-a-nos atrás), o piano, a viola, todos aqueles músicos
fenomenais, o tipo que pôs a luz que vi sempre, mesmo naqueles diversos momentos
em que meti os olhos para dentro, todos eles, tinham ido ao CCB Só para me dar
lume, Só para eu continuar, Só para existir para mim, sem qualquer dúvida, sem
hesitar, abrindo as minhas janelas Só para voar para o lado todo certo da noite.
Se houve sacrifício, Só me fez bem. Um sonho onde eu fui eu e que morreu
depressa demais para tratar para todo o sempre as minhas nódoas negras
sentimentais, mas que se tornou eterno enquanto durou.
Fosse Jorge Palma no dia vinte e oito de Janeiro ao vivo
no CCB um livro e teria cada verso uma dobra em seu canto.
Não sei se todos os outros que lá estavam não terão
sentido o mesmo.
É um privilégio ir ver um concerto em que cantam Só para
nós.