quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Noite de Inverno em modo Caraíbas


Não que goste de me gabar. Ou causar (propositadamente) inveja… Mas, não posso deixar de vos expor, meus queridos sacais, que hoje, noite de 25 de Janeiro do recente e já tão tristemente vivido Mundo ano de 2017, jantei na varanda!!!!! Que luxo, deus meu! Em pico de inverno de cidade de Lisboa; e, dizem por aí e eu tenho sentido por aqui, em cheio no meio de vaga de frio que por cá se faz sentir!
Mais: não só jantei, como pela varanda me deixei estar; em banco de madeira dura (e sem rodinhas que me permitam fazer exercícios de aquecimento), pensando em collants coloridos (não perguntem, por favor… não estou aqui para expor todos os meus devaneios…), em chegar longe e trocando o que houvesse a trocar (modo mais para o digital... infelizmente, banco menos duro não tenho, mas este até teve boa reacção de nádegas doridas de noite de bicicleta que foi a de véspera…).
Um prazer.
Como se estivesse em pleno Rio de Janeiro!  Caraíbas! Até está quase calor!


(Naturalmente, meus queridos sacais, que não vou comentar as mãos e os pés que me gelam; o pijama, camisola, sobretudo que envergo; a manta que me cobre as pernas; a luz que me falta… assim até poderia parecer que não estaria tirando o maior prazer de aqui estar… nunca para causar inveja. Claro.)

(Há palavras que aquecem... sabiam?)

domingo, 15 de janeiro de 2017

Às vezes posso não transparecer, mas...


Terminei o livro com que me batia (e que me bateu violentamente em vários momentos, ao ponto de ter de o largar amiúde, de tanto sentir fundo e de tanto ver tais sentimentos aflorarem em olhos, pele e carne), vesti qualquer coisa e fui ao supermercado.
Senti o sol quente na minha cara, ombros e pescoço; contrariando o frio que havia sentido após toda a manhã em varanda-sombra embrenhada em Ana Margarida de Carvalho.
Cruzei-me com mulher que envergava estar distante. Estava com o Out of Africa (ele de novo, sim) nos ouvidos, mas pareceu-me que ela se dirigia a mim, naquele abre e fecha de boca, meio peixe, pelo que me dispus a dar-lhe um dos meus ouvidos.
Nunca tive muito jeito para adivinhar idades. E esta mulher parecia ter tantas. O que é bem diferente de ter tanta, como muito sacal saberá.
Também nunca tive muito jeito para descrever pessoas (o que muito sacal também o saberá), mas, para dar corpo a texto, atrever-me-ei a recordar em escrito que tinha estatura mediana, cabelos despenteados, olhos cheios, andar deambulante, mas dirigido e corpo satisfeito de sol.
Dei-lhe um ouvido dos meus, mas como se este não lhe bastasse (pareceu-me ler-lhe alguma hesitação), dei-lhe o segundo logo de seguida.
Porque estava sol quente, que sentia, satisfeita, em cara, ombros e pescoço.
- Eu sou mesmo boa, sabes? Às vezes posso não transparecer, mas sou mesmo muito boa!

Reagi baixinho. Não me despedi. Fiquei vendo mulher que aparentava ter tantas idades, rua acima, com carrinho de compras na mão esquerda e saco com a inscrição Love, na mão direita, dirigindo-se a casa fria e vazia, em início de tarde de Domingo de inverno soalheiro, enquanto eu desci rua abaixo, com carrinho de compras na mão esquerda e saco com uma qualquer inscrição, na mão direita. E Out of Africa nos ouvidos; e sol em cara, ombros e pescoço; e aquela mulher com tantas idades na cabeça.
E fiz por não me distanciar muito dela.

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O que (não) desejas para o futuro dos teus filhos?


Quando, de quando em vez, muito espaçadamente, dou por mim me obrigando a pensar (digo "obrigando", porque não é algo que saia naturalmente de mim; normalmente está associado a conversas que vou ouvindo de colegas, "amigos" ou amigos - nos amigos, felizmente, também tal é raro, o que me faz pensar que, apesar de tudo, me vou encaixando numa normalidade que tenho cada vez maior tendência em designar como anormalidade, o que não abonará muito em favor dos tempos de hoje):
"O que desejas para o futuro dos teus filhos?", inevitavelmente começo pensando em "O que não desejo para o futuro dos meus filhos.".

Ao contrário do que outros "nãos" podem significar, não considero que esta tendência tenha uma componente forte de contrariedade (de que sou famosa), mas sim porque efectivamente me debruço mais facilmente sobre o que não desejo para eles do que o fácil que é desejar para eles. O Amor, A Felicidade, A Diversão...

Há dias pedi ao meu filho que me enviasse um dos filmes de youtubers que ele tanto tem visto. No imediato, vi-o acender olhos e perguntou-me:
- Mas... Queres mesmo ver?
e eu:
- Sim. Tenho alguma curiosidade.
No imediato seguinte vi sombra sobre ele e apressei-me:
- Pode ter palavrões. Eu não me importo. Envia-me só, para eu ver. Gostava mesmo de ver o que vês!
(pausa, em reflexão)
- Eu agora tenho visto mais um que não tem palavrões. Mas o outro que via antes... E... Tens a certeza? Isto são vídeos de "gamers"... (acho que foi este o termo)
- Ó João. Escolhe então um de cada e envia-me. Ao teu critério. Só queria ver também o que vês.
Notei que ficou contente por lhe ter pedido tal. debruçou-se sobre telemóvel e foi pesquisar. No entretanto:
- Ó mãe. Eu envio. Mas tu não me vais proibir de vê-los, pois não?
- João. Como sabes a tua mãe dificilmente proíbe que vocês vejam coisas. Mas darei a minha opinião. Tal como já disse que algumas séries que a tua irmã vê são uma merda e nunca a proíbi. Mas com ela já as vi, e fiz questão, e dei a minha opinião. O que tu tens visto não conheço. De qualquer forma, caso eu verifique que é matéria para te proibir de ver, assim o farei. Mas para saber, tenho de ver.
- Proibir?
- Sim. Imagina que andas a ver filmes violentos; em que, por exemplo, há tipos que batem e maltratam pretos. Isso eu te proíbiria.
- Oh mãe! Claro que não vejo nada disso!!!!!
- Então envia. E terei gosto em saber o que tanto aí vês!

E ele enviou. E eu tenho as minhas opiniões que lhas darei quando regressar a semana-mãe.

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Quanto ontem apanhei o metro de regresso a casa, ao escolher o álbum ou compilação que me acompanhariam na viagem, deparei-me com o "Out of Africa" e, face ao enorme cansaço, bem como a outras circunstâncias aqui sem contexto, por ele me deixei ficar. Dá-me um multi-misto de
emoção
excitação
apaziguamento
força
que estavam perfeitos para o fim do dia, ainda com tantos, pelo menos planeados, afazeres pela frente.

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Após alguns insucessos nos afazeres (a que me senti alheia), lá me sentei em varanda-campo e abri as notícias em modo espertomóvel e logo logo me deparei com ela. Exigia phones e atenção. pelo que os fui buscar e voltei a sentar-me em banco de varanda, em verdadeira expectativa.
E ouvi-a. A mesma voz (mais afónica) do "Out of Africa" (que mesmo que não explícita em música ouvida em metro, nunca deixa de estar bem presente, na mesma música, ouvida em metro). A que me disse já várias vezes "I had a farm in Africa...".

E o que ela disse e que me provocou sentir amálgama que há muito não sentia foi:



(e como esta coisa já me pregou partidas em outros "filmes" que aqui coloquei, como a animação "The Light" que foi das coisas mais bonitas que vi nos últimos tempos e como faço questão que este daqui não saia, atrevo-me a copiar excertos do texto, com partes do discurso, de Paula Cosme Pinto, e que acompanhavam a publicação que ouvi e li com todos os sentimentos à flor da pele:

«O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita à violência. Quando os mais poderosos usam a sua posição para intimidar os outros, todos nós perdemos". Palavras da enorme Mery Streep, que ontem subiu ao palco da 74ª edição dos Globos de Ouro para receber o Prémio Carreira. Durante cerca de seis minutos, a atriz aproveitou o momento para fazer uma reflexão sobre os desafios que os Estados Unidos enfrentam após a eleição de Donald Trump. E sem sequer mencionar o nome do próximo Presidente do seu país, deixou-lhe esta mensagem com que começo o texto, quanto à importância de se saber liderar uma nação.
Afónica e visivelmente emocionada, Meryl Streep - que tem feito bandeira da importância da igualdade nos EUA - usou a aparente ironia e bom-humor para começar o seu discurso: “Vocês e todos nós nesta sala pertencemos verdadeiramente aos segmentos mais vilipendiados da sociedade norte-americana neste momento. Pensem nisso. Hollywood, estrangeiros e a imprensa”. Primeiro o público riu, depois percebeu que o discurso de Streep seria tudo menos uma paródia quando a gigante do cinema começou a enumerar as diferentes ascendências de vários dos artistas presentes na sala: bairros de lata de Nova Iorque, Etiópia, Índia, Israel, Itália e por aí fora. “Mas quem somos nós? E o que é Hollywood, de qualquer forma? Um monte de pessoas de outros sítios. Hollywood está cheia de forasteiros e estrangeiros”, lembrou a atriz, tocando num dos pontos mais polémicos da campanha de Trump. “Se os expulsarmos todos, não terão nada para ver a não ser futebol e combates de artes marciais."
Perante uma sala em silêncio sepulcral, Meryl Streep decidiu então contar qual tinha sido o desempenho que mais a impressionou em 2016. "Este ano, houve um desempenho que me impressionou, e não pelas melhores razões: o momento em que a pessoa que se senta no lugar mais respeitado do nosso país imitou um jornalista com deficiência, alguém sobre quem tinha superioridade no privilégio, no poder e na capacidade de ripostar. Ver isto partiu-me o coração e é algo que ainda não consegui esquecer, porque não foi num filme, foi na vida real."
A atriz referia-se a Trump, que durante um comício na Carolina do Sul ridicularizou publicamente o jornalista Serge Kovaleski, do The New York Times, que sofre de artrogripose, uma doença congénita rara que, entre outras coisas, afeta as articulações. "Este instinto para humilhar, quando é posto em prática por alguém da esfera pública, alguém poderoso, infiltra-se na vida de todos nós, porque de certa forma dá permissão aos outros para fazerem a mesma coisa. “O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita à violência.”, rematou Meryl Streep.“Quando os poderosos usam a sua posição para intimidar os outros, todos nós perdemos.”
A atriz aproveitou para agradecer à imprensa , e fez um apelo para que no futuro os jornalistas continuem a fazer um trabalho livre, onde não faltem denúncias de atos de intimidação, desrespeito e abuso de poder. Quanto ao privilégio de se ser uma figura pública consagrado pela máquina de Hollywood, deixou um recado aos colegas de profissão, mas que me parece ser adequado a todos nós: “Devemos relembrar todos os dias a responsabilidade de agirmos com empatia.”
Com Donald Trump prestes a tomar posse do país, é essencial que todas as vozes que se ergueram durante a campanha não se calem depois de dia 20 de janeiro. Os Estados Unidos irão enfrentar tempos complexos e o exercício da democracia, nas suas mais variadíssimas formas, nunca foi tão importante quanto agora. Para que o medo nunca se sobreponha a valores tão básicos como a igualdade a liberdade e o respeito. Este pequeno contributo de Meryl Streep é um bom exemplo disso.»

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Foi quase num imediato que "partilhei" publicamente esta emoção.
E, no imediato seguinte, partilhei um "Para eles verem; incluindo a "triste" cena relatada".

Fiz questão de acompanhar este discurso nos seus pré e pós.

Conto que não haja batota futura de youtube que bloqueie estes breves excertos de vida de Mundo de 2017.

Em pré, para contextualizar:

https://www.youtube.com/watch?v=PX9reO3QnUA

E em pós, para ridicularizar (há que dar sempre um espaço para ridicularizar; pena é que seja em tão graves circunstâncias):



(o tipo nem consegue arranjar-lhe adjectivo ou foi já assessor atento que cortou?)

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Meus queridos sacais,

Eu preferia que os meus filhos não vissem tanta merda como vêem (naturalmente que aqui constará um certo exagero, no sentido em que eles são uns privilegiados porque, para além de merda, também vêem e vivem e sentem tanta outra coisa que não o é; mas assim não causaria tanto efeito). Há merda, no entanto - daquela que deixa nauseabundo, agoniante e doloroso cheiro; por anos, décadas e, espero eu!, não mais que isso, em tempo - que, ao contrário das outras, eu faço questão que eles vejam, leiam, sintam.
Porque me é essencial que eles apreendam que

«O desrespeito convida ao desrespeito, a violência incita à violência. Quando os mais poderosos usam a sua posição para intimidar os outros, todos nós perdemos"


E esta reflexão, esta interiorização, é o que mais desejo para o futuro dos meus filhos.



domingo, 1 de janeiro de 2017

Bem-vindas!


(Sim; é o texto de ano novo; com mais do velho que do novo, sim. E, neste, atrevi-me a roubar de forma absolutamente descarada; é que fui mesmo atrevida e nem sequer fui fiel ao que roubei. Não o fiz a nenhum dos que se foram neste 2016, mas a um que já se foi há anos e de seu nome António Gedeão. Perdoas-me, estou certa. Por elas. As bem-vindas.)


10!
Arrancamos para finais de dezembro e lembramos um plano feito perto dos finais do anterior dezembro e pensamos que isso aconteceu ontem e que o facto de o plano não se ter concretizado (e que simples que ele era; e nem sequer com prazo longo ou tarefas de outros exigentes; apenas presentes), parecendo ter sido ontem, só significa que fomos roubados, assaltados em força, de puxão, e que, se é comum olharmos para trás e vermos que tudo passou tão mais depressa do que vivemos, não é assim tão comum sentirmos que nos roubaram um ano inteiro com todos os seus 365 dias.

9!
Começamos por tentar encontrar tão ultrajante ladrão. Que ser pode ser tão cruel que passa 366 dias (é tão vil, este, que esperou até haver ano mais cheio em datas – 366 delas) a, um por um, tomá-los de alguém, arrebatando-os, em suas totais vinte e quatro horas? E o que terá feito com mais 8.784 horas, 527.040 minutos, tantos segundos mais. Para quê? Não creio que haja quem possa viver tanto tempo em tão pouco tempo, pelo que concluo que só pode ter sido por pura garganeira e que, assim que os roubou, os deitou fora para um qualquer tempo em que mais ninguém os pudesse usar.

8!
Somos, apesar de tudo, racionais. Não nos entregamos assim de mão desbeijada à loucura. E vamos então à procura de cada um dos dias, de cada uma das horas, esmiuçamos todos os minutos, retalhamos segundo a segundo.

7!
Com algum esforço (porque é dezembro; o mês de todos os esforços), reencontramos frutos, frases, trocas, apoios, entregas, cores, “Imagino que não tenha sido fácil; mas já viste tudo o que conseguiste entretanto?”, Pinguins, risos, sorrisos (dos de dentro e dos de fora), toques, um “E tu tens tanto!”, recebido já mesmo mesmo no fim, choros copiosos saídos bem de lá do fundo, não controláveis (o que só pode significar que existimos), paisagens, esquilos que se escondem, UBER_RITA ao seu dispor, sucessos deles, eles, manhãs de sol e pés em água salgada; os muitos presentes.

6!
Porque é dezembro, o mês de todas as chuvas, reencontramos tudo isso, mas temos dificuldade em nos encontramos lá. Levados, certamente, pela corrente própria do mês.

5!
Tentamos, então (porque somos, apesar de tudo, racionais), olhar para o Mundo. Esse que corre mesmo com barreiras; das que estão bem juntinhas e em que quase não há tempo ou espaço para pousar um pé antes de se ter de conquistar novo impulso para transpor a seguinte. Saímos de nosso umbigo redondinho, subimos lá acima e miramos o outro redondinho sem
cairmos
cairmos
cairmos sempre,
ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos
(como descoberto por Galileu e escrito por Gedeão, a quem roubo, de forma muito atrevida, eu agora).
E optamos por fechar os olhos ao Mundo de 2016 (talvez porque seja dezembro, o mês de tantos que nada têm; o mês de uns que tudo têm), viramos a cabeça para cima, abrimos olhos para satélites e estrelas de Galileu de Gedeão e tentamos desesperadamente encontrar
os olhos misericordiosos
o coração cheio de piedade
pelos homens que não precisam sofrer,
a quem Deus dispensou de procurar
a verdade.
A verdade, sim. Mas, mais que isso, no Mundo de 2016, a mais pura e simples humanidade.

4!
Descemos ao sofá. Pomos mantinha sobre as pernas; pomos mantinha sobre os ombros; pomos mantinha sobre a cabeça. Para que não se veja o mantermos os olhos fechados para umbigo redondinho e para Mundo de 2016 (porque somos, apesar do mês, racionais).

3!
Obrigamo-nos a que passem por nós os últimos dias desse dezembro, o mês que
corre e rola pelos espaços
à razão de trinta quilómetros por segundo.
Preparamo-nos com algum (não demasiado) esmero. Até nos atrevemos ir até onde nunca tínhamos ido e vestimos collants com brilhantes. Dourados! Vamos com sono para a noite, mas abrimos bem os olhos a todos os que lá estão connosco. Mesmo que o sol, com aquela lua em estado crescente mas ainda tão ténue, nos encandeie olhos. Naquela última noite de dezembro, o mês de todos os fins.

2!
Estamos entre queridos. Somo-nos. Despejamo-nos. Abraçamo-nos e deixamos que nos piquem e peguem ao colo em abraço de “Gosto mesmo de ti, pá! És uma granda besta, mas gosto mesmo de ti!”. Gozamo-nos. Como só os de longa data se permitem gozar: com riso, choro-riso, picanços e sem-vergonhanços. E Wham, M80, Elton John, David Bowie, Mário Soares, Queen, lista dos que se foram neste ano aziago, dúvidas sobre nomes, nomes de que já não nos lembramos porque os neurónios ainda não encontraram as sinapses paralelas que os substituem (ou disso temos esperança!), outras passagens de ano, muitos anos, Andaluzes, motards, acampamentos, filmes de flácidos com muito ritmo, expectativas, jogos de palavras e de emoções, borrego, bacalhau espiritual diferente do outro também espiritual, Champomix e outro menos MIX, cerveja dourada em copo de vinho da Casa, fotos de decotes, pernas e beijos castos em tocando gaita, cavaquinho e viola, calor de lareira, promessas a cumprir. Somos mesmo nós! Com umbigo qb e Mundo de 2016 que se revisita qb.

1!
Sentimos, quase sem dar por nada e sem o esperar, uma enorme satisfação ao ouvir o ZERO e, mais que festejarmos o novo que chegou, enterramos o velho que se foi. Morto e enterrado. Julgávamos que não ligávamos muito a marcos, mas, em chegando, possivelmente mistura de euforia, visão de fogo de artifício também não esperado por aquelas bandas, ainda resquícios de choro-riso, tradições que em outros anos até irritaram, ele abate-se sobre nós e deixamo-nos sentir marcados por ele. A euforia da Morte; ainda não a do Nascimento.

0!
Entramos no prédio já noite alta embora não tanto como em outras de marcos similares, mesmo que com outros números e vemo-las espalhadas, maltratadas, jazidas pelo chão do patamar de entrada. Eram rosas. Vermelhas, brancas, amarelas, rosa. Lindas, em pleno Inverno. O que as levou estarem ali, algumas desfeitas, pétalas para um lado, caules para outro, torna-se insignificante porque nossos olhos (o que me atraiçoam, estes olhos!) simplesmente as veem como um sinal. De repente, aquela visão que poderia apresentar-se como devastadora, triste, violenta, sinal de finais que doeram a alguém, a algum umbigo redondinho, aos nossos olhos, são o Nascimento. Pegamos em cada uma das que ainda se permitem pegar, subimos as escadas até ao nosso 1º andar, metemos a chave na porta e esquecemos que só pensávamos em tirar a roupa e os collants e os sapatos, enquanto percorríamos a rua até à nossa porta. Seguimos directos à cozinha, abrimos portada, afastamos chouriço, abrimos janela, acendemos luz. Sentimos o frio deste já janeiro que nos abraça. Poisamo-las com todo o cuidado na bancada de pedra, perscrutamos as jarras todas que temos, escolhemos a mais estética, tiramos do seu interior as flores que já morreram há meses, no já morto e enterrado 2016 e, uma a uma, colocamos vermelhas, rosas, amarelas e branca na água velha que teima em não ter evaporado. Deixamo-nos ficar, no frio da nossa varanda de janeiro e com pés cansados de 2016, uns minutos a olhar para os primeiros frutos do novo número. E gostamos. E até nos atrevemos a ir para cama com um sorriso (dos de dentro) no corpo.






Sejam bem-vindas. A este janeiro, mês marcado por inícios.


PS - esta coisa, mais uma vez, resolveu fazer batota na inserção das fotos! Parece que terão de imaginar, meus queridos sacais! O que, na verdade, dá até mais liberdade!