segunda-feira, 3 de abril de 2017

"1 de Abril, dia das mentiras" ou "To Believe or not to Believe"


O facebook tem uma particularidade que pode ser, genericamente, assumida como positiva, que é a de nos alertar para aniversários de “amigos”. Em face dos alertas, reagimos depois como bem entendemos. Podemos, como exemplos:
- Estás parvo, pá?! Mas acaso eu preciso de ti para recordar esta data? Soa quase a insulto!
- Eh, pá, que fixe! Estou sempre a confundir o 11 com o 13! Eu já sei que é junto a um feriado, mas nunca me lembro bem de qual (também, este mês tem tantos!) ou se é antes ou depois! Obrigada, FB!
- Oh, que raios! E agora o que faço a este? Mando mensagem, publico no mural, SMS ou telefone? E o que escrevo/digo? Não gosto de não personificar!...
- bah…
Hoje é dia 1 de Abril e há um que parece afronta, outro que é “bah” e um terceiro indeterminado.
Resolvo desejar, com o toque de personificação que encontro mais à mão:
“Muitos Parabéns!!! E que o dia não seja replecto de mentiras!”,
e mais qualquer coisinha, em despedida.
E, num posterior, vindo do inesperado, recebo o seguinte, de entre outras coisinhas, como sejam o agradecer e tecer comentários futebolísticos (no 1 de abril de 2017, jogaram Benfica e Porto, o que pode parecer de somenos importância, mas que espevita memórias de um Benfica-Farense de há tantos anos atrás e que foi tema de telefonema de aniversário não “bah…”, só afronta, e que, desde então, tem sido sempre assunto, nestes dias 1 de abril que se seguiram):
“Nem me apercebi de mentiras mas estas também são úteis! Os sonhos e os desejos são mentiras boas, só algumas serão verdades…”.
E esta deu que pensar.
A dicotomia bem mais complexa das mentiras e das verdades, foi em que minha mente ficou deambulando.
E, de repente, ela voou para frases, perguntas, constatações, vidas, poesia, com as quais se foi construindo:

De facto, quantos os sonhos ou desejos que já percepcionados como futuras mentiras, vivemos com prazer como sendo “as mais puras verdades”, enquanto não nos forçamos a acordar? Enquanto não passam?

“Uma mulher que diz a sua verdadeira idade não é digna de confiança”, “roubada” (nunca confirmei, mas, para mim, sempre foi verdade, em todos os momentos em que a ouvi) a Oscar Wilde

Nunca minto. E, se o faço, é certamente por Amor. E sou sempre Livro. Basta ler.

Nunca?
Nunca.

Sempre?
Para sempre.

“Que não seja imortal, posto que é chama;
mas que seja infinito enquanto dure”,
do Soneto de Fidelidade de Vinícius, tantas vezes ouvido, tantas vezes absorvido, incluindo aquela introdução que o M. sempre faz quando o canta. A absolutamente incongruente, se nunca vivida.

“Compañeros de historia,
Tomando en cuenta lo implacable
Que debe ser la verdad, quisiera preguntar
Me urge tanto,
¿Qué debiera decir, qué fronteras debo respetar?
Si alguien roba comida
Y después da la vida, ¿qué hacer?
¿Hasta donde debemos practicar las verdades?
¿Hasta donde sabemos?
Que escriban, pues, la historia, su historia
Los hombres del playa girón”,
do Sílvio, em Playa Girón; desafiando História e história, questionando limites, de forma urgente; o direito de perguntar qual a verdade a considerar, pelo menos quando não temos de ser Historiadores.

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Recentemente, vi um bocadinho da minha vida confundido com uma verdade só visualizada de um lado, o qual eu nem sequer conhecia (ou conheço). Tenho tido alguma dificuldade em lidar com tal. E, agora me apercebo, quase claramente, que, não tanto pela verdade ou pela mentira, mas pelo propósito aos gestos associados.
Prefiro sempre a verdade: é mais tranquila, apaziguadora para nós próprios; não tem perna curta, o que a faz passar muito mais despercebida, podendo tal parecer que não mereceu tanto cuidado, mas tal é positivo porque significa que as nossas atenções estão concentradas no que é bem mais importante, como o sentir, o ouvir, o ver, o saborear (em aroma ou paladar). A verdade é simples, mesmo considerando todas as suas complexidades. E isso joga bem com quem já só usa parte do baralho, porque o restante deixou propositadamente ficar na posse do jogador que faz batota à vista de todos (o que não é mentira, já que, sendo à vista de todos, é apenas um jogo; sem nunca pretender enganar ninguém).
Sonhar ou desejar (mentiras ou verdades “to be”) é verdadeiro nos momentos em que acontece. Não atingem outros, porque nossos: os sonhos ou os desejos. Quando muito, nos “to be” já ocorridos, podemos olhar para trás e verificar que nos mentíamos. Mas acreditávamos que não, na altura, pelo que nos fazíamos levar por verdades que, então, víamos. Ou sentíamos ou ouvíamos ou saboreávamos (em aroma ou paladar). Porventura, magoámo-nos. Mas só depois. Não enquanto era verdade.
Se revirmos os sete mortais, não encontraremos a mentira.
Nos dez que mandam, também não.
Encontramos a ira ou a adulteração. Entre outros, claro. Caberiam mais aqui, mas são os que resolvo destacar.
Recentemente (como referi algures umas linhas atrás e, entretanto, me perdi), por ira, ou outro qualquer pecado, indo contra o mandamento de não adulteração, fui brutalmente invadida por uma interpretação de uma verdade que até era mentira. Mentira, por ter sido sonho (ou desejo) de um “not to be”. Verdade, porque o senti, ouvi (tão baixinho…), vi e saboreei (em aroma ou paladar), de facto.
What is the question, then?
Julgava que o sentia por ser mentira. Mas, hoje, sei que não. Essa pode ser, dentro do seu pecado e desmandamento, tão bonita como uma verdade.

(e os meus filhos que não me ouçam… terão tempo de lá chegar)