O facebook tem uma particularidade
que pode ser, genericamente, assumida como positiva, que é a de nos alertar
para aniversários de “amigos”. Em face dos alertas, reagimos depois como bem
entendemos. Podemos, como exemplos:
- Estás parvo, pá?! Mas acaso eu
preciso de ti para recordar esta data? Soa quase a insulto!
- Eh, pá, que fixe! Estou sempre a
confundir o 11 com o 13! Eu já sei que é junto a um feriado, mas nunca me
lembro bem de qual (também, este mês tem tantos!) ou se é antes ou depois!
Obrigada, FB!
- Oh, que raios! E agora o que faço
a este? Mando mensagem, publico no mural, SMS ou telefone? E o que
escrevo/digo? Não gosto de não personificar!...
- bah…
Hoje é dia 1 de Abril e há um que
parece afronta, outro que é “bah” e um terceiro indeterminado.
Resolvo desejar, com o toque de
personificação que encontro mais à mão:
“Muitos Parabéns!!! E que o dia não
seja replecto de mentiras!”,
e mais qualquer coisinha, em
despedida.
E, num posterior, vindo do inesperado,
recebo o seguinte, de entre outras coisinhas, como sejam o agradecer e tecer
comentários futebolísticos (no 1 de abril de 2017, jogaram Benfica e Porto, o
que pode parecer de somenos importância, mas que espevita memórias de um Benfica-Farense
de há tantos anos atrás e que foi tema de telefonema de aniversário não “bah…”,
só afronta, e que, desde então, tem sido sempre assunto, nestes dias 1 de abril
que se seguiram):
“Nem me apercebi de mentiras mas
estas também são úteis! Os sonhos e os desejos são mentiras boas, só algumas
serão verdades…”.
E esta deu que pensar.
A dicotomia bem mais complexa das
mentiras e das verdades, foi em que minha mente ficou deambulando.
E, de repente, ela voou para frases,
perguntas, constatações, vidas, poesia, com as quais se foi construindo:
De facto, quantos
os sonhos ou desejos que já percepcionados como futuras mentiras, vivemos com
prazer como sendo “as mais puras verdades”, enquanto não nos forçamos a acordar?
Enquanto não passam?
“Uma mulher que
diz a sua verdadeira idade não é digna de confiança”, “roubada” (nunca
confirmei, mas, para mim, sempre foi verdade, em todos os momentos em que a
ouvi) a Oscar Wilde
Nunca minto. E,
se o faço, é certamente por Amor. E sou sempre Livro. Basta ler.
Nunca?
Nunca.
Sempre?
Para sempre.
“Que não seja
imortal, posto que é chama;
mas que seja
infinito enquanto dure”,
do Soneto de Fidelidade
de Vinícius, tantas vezes ouvido, tantas vezes absorvido, incluindo aquela
introdução que o M. sempre faz quando o canta. A absolutamente incongruente, se
nunca vivida.
“Compañeros de
historia,
Tomando en cuenta
lo implacable
Que debe ser la
verdad, quisiera preguntar
Me urge tanto,
¿Qué debiera
decir, qué fronteras debo respetar?
Si alguien roba
comida
Y después da la
vida, ¿qué hacer?
¿Hasta donde
debemos practicar las verdades?
¿Hasta donde
sabemos?
Que escriban,
pues, la historia, su historia
Los hombres del
playa girón”,
do Sílvio, em
Playa Girón; desafiando História e história, questionando limites, de forma
urgente; o direito de perguntar qual a verdade a considerar, pelo menos quando
não temos de ser Historiadores.
………………………………………………………………………………………
Recentemente, vi um bocadinho da minha
vida confundido com uma verdade só visualizada de um lado, o qual eu nem sequer
conhecia (ou conheço). Tenho tido alguma dificuldade em lidar com tal. E, agora
me apercebo, quase claramente, que, não tanto pela verdade ou pela mentira, mas
pelo propósito aos gestos associados.
Prefiro sempre a verdade: é mais
tranquila, apaziguadora para nós próprios; não tem perna curta, o que a faz
passar muito mais despercebida, podendo tal parecer que não mereceu tanto cuidado,
mas tal é positivo porque significa que as nossas atenções estão concentradas
no que é bem mais importante, como o sentir, o ouvir, o ver, o saborear (em
aroma ou paladar). A verdade é simples, mesmo considerando todas as suas
complexidades. E isso joga bem com quem já só usa parte do baralho, porque o
restante deixou propositadamente ficar na posse do jogador que faz batota à
vista de todos (o que não é mentira, já que, sendo à vista de todos, é apenas
um jogo; sem nunca pretender enganar ninguém).
Sonhar ou desejar (mentiras ou
verdades “to be”) é verdadeiro nos momentos em que acontece. Não atingem
outros, porque nossos: os sonhos ou os desejos. Quando muito, nos “to be” já
ocorridos, podemos olhar para trás e verificar que nos mentíamos. Mas
acreditávamos que não, na altura, pelo que nos fazíamos levar por verdades que,
então, víamos. Ou sentíamos ou ouvíamos ou saboreávamos (em aroma ou
paladar). Porventura, magoámo-nos. Mas só depois. Não enquanto era verdade.
Se revirmos os sete mortais, não
encontraremos a mentira.
Nos dez que mandam, também não.
Encontramos a ira ou a adulteração.
Entre outros, claro. Caberiam mais aqui, mas são os que resolvo destacar.
Recentemente (como referi algures
umas linhas atrás e, entretanto, me perdi), por ira, ou outro qualquer pecado, indo
contra o mandamento de não adulteração, fui brutalmente invadida por uma interpretação
de uma verdade que até era mentira. Mentira, por ter sido sonho (ou desejo) de
um “not to be”. Verdade, porque o senti, ouvi (tão baixinho…), vi e saboreei
(em aroma ou paladar), de facto.
What
is the question, then?
Julgava que o sentia por ser mentira.
Mas, hoje, sei que não. Essa pode ser, dentro do seu pecado e desmandamento,
tão bonita como uma verdade.