Aí há uns poucos de dias escrevi sobre férias
(des)planeadas.
Em viagem, a coisa tende a complicar
quando não sabemos com exactidão o que procuramos, quando vamos.(engraçado escrevinhar sobre viagens quando em ouvindo “When in Rome” dos Penguin Cafe Orchestra - o que não ouvia há anos e me ocorreu hoje ouvir enquanto teclando no novo Lenovo que acabo de adquirir por forma a que as minhas vidas tantas não se misturem mais do que já andam imiscuídas - quando, já há muitos anos, tinha eu uns 14 ou 15, fiz um filme-imagem ao som deste cd, que era uma viagem, tão só uma viagem… coincidências)
Às vezes, proocuramos algo e
encontramos outro algo que nos enche tanto que nos esquecemos do primeiro algo
que nos tinha abocanhado naquele período de viagem – quem já se perdeu pela
ilha das Flores, ou qualquer outra ilha de Vida, sabe perfeitamente do que
estou escrevendo.
Estranho é (pelo menos para os que nos tentam parar ou
perante os quais paramos, mesmo que sem dar por isso) quando não sabemos o que
procuramos ou, mesmo sabendo (em ideia), não conhecemos, ou conhecemos, em
tempos, mas deixámos de conhecer e de saber como explicar.
Basta imaginar - estamos indo, em
direcção a “lá”, paramos o carro,
abrimos a janela e:
-
Olhe,
desculpe, boa tarde.- Boa tarde.
- Podia informar-me como vou?
- Como vai?
- Sim. Como chego lá.
- Como chega lá, onde, minha senhora?
- Como assim, onde?
- Sim, onde? Para a ajudar a chegar, ser-me-ia útil saber onde quer chegar…
- Eu quero ir para lá.
- Para lá…
- Sim. Senti que seria por aqui. Pode confirmar?
- Se posso confirmar… Lá é lá. Pode descrever?
- Descrever? Sei que é para lá que quero ir. Trago a minha bagagem toda. Trinta e nove anos dela, mais nove-a-caminho-dos-dez e mais sete-a-caminho-dos-oito, que me têm acompanhado a lá chegar. Não sei por onde vá, mas sei exactamente que é lá que quero chegar.
- (coçando a cabeça…) Bom… siga em frente, então. Pode apanhar umas curvas pelo caminho, uma ou outra bifurcação onde terá de escolher um sentido, mas estou certo que há-de lá chegar…
Seguimos em frente.
Apanhamos curvas com as quais
contávamos e outras, apelidadas de contracurvas, que nos surpreendem e nos
obrigam a guinar o volante do caminho, encaixarmo-nos na faixa, porque temos
medo das alturas e não gostamos sequer de imaginar o que nos aconteceria se,
não contracurvando, nos precipitássemos fora da estrada, por ali abaixo, por
ali abaixo; chegamos às bifurcações e apercebemo-nos que o “lá” pode já não ser o “lá” com que partimos e onde queremos
chegar e viramos à direita, quando em todas as anteriores virámos sempre à
esquerda, na esperança de, mudando o “lá”
ou o caminho para o “lá”, não nos
deixarmos entrar num remoínho de estradas, todas para o mesmo lado, porque
arriscar a mudar de lado, como a palavra o diz, é um risco, mas se feito com convicção,
ou porque descobrimos, entretanto, que seguir sempre o Sol - à vista, lá em cima - não significa que nunca
encontremos a Lua, entretanto. Mesmo que, ela própria, lá em cima.
Os mais apaziguados perceberão que estou a falar de
viagens; de férias (des)planeadas; de caminhos para lá; de nada mais que isso.
Os mais atrevidos poderão achar que
misturo ideias.
Para esses, porque aprecio alimentar, poderei encontrar
aqui um mote. Um paralelismo com o “lá”.
Apenas para que “lá” se agarrem, vou
tentar encontrar forma de alimentar esta ideia (sem qualquer tipo de
solidariedade em vista) dentro do sacalmente falando.
Ora bem….
Deixem cá ver…Ir para lá…
……………………………………………………………………………………………………………
Bom… não querendo influenciar ninguém
e, muito menos, dirigir…
Imaginem o mundo. Por exemplo. Aquele
que vos rodeia.Por exemplo. Para onde caminham? Para onde pretendem caminhar, quando em nisso pensam?
Para onde? Não ouvi todas as
respostas…
Ah. Ok. Portanto, a maioria do Mundo
que vocês conhecem pretende caminhar para a Felicidade.Digamos que é um ponto de chegada…
E onde é isso?
Como? Não sabem? Sabem às vezes?
Diria que estão perdidos, então. Portanto, esses vossos amigos, esse mundo que vos rodeia, quer ir para “lá”, mas não sabe por onde, nem sequer como descrever a um qualquer que os pare – no seu caminho – ou que eles fazem parar – no seu caminho.
Entendo.
Seguramente, entendo. Voltando aos
Açores, uma vez queríamos encontrar uma lagoa em fogo que não sabíamos
descrever e encontrámos um fogo que se espraiava pelas nuvens que sobrevoavam o
carro, enquanto, em baixo, víamos, espaçadas, manchas de líquido feito água,
reflectindo o que víamos no céu e, dei por mim, olhando para cima, encantada,
enquanto que esperava, antes, ver meu olhar dirigido para baixo, para lá, para ela, a Lagoa do Fogo, que nunca
vi, apenas no reflexo superior do meu olhar.
Portanto, sim: compreendo. Eu sei do
que estão a falar.
Bom… digamos que (não) estaria à
espera desse paralelismos de “lás”.
Vejamos o que posso fazer para ajudar.
Pode parecer um exemplo complexo, à
primeira vista, mas, diria, talvez mais simples do que se possa imaginar.
Talvez o mais simples de todos. Quase banal.
Se não, vejamos:
-
Todos
a procuram- Ninguém a sabe descrever
- Mesmo que, num determinado momento, alguém a descreva, de forma assertiva, sem qualquer sombra-núvem de dúvida, a probabilidade de a descrever, no exacto momento seguinte, de forma diferente é bastante elevada;
- Tende a variar de forma mais rápida que a luz (e, consequentemente, que a sombra), quer dentro de um próprio corpo, quer entre corpos.
Portanto, tão simples e banal como isto. Diria, até, universal.
Eu atrever-me-ia, hoje, a todos os
quantos que têm a quem sugerir algo sobre caminhos, o seguinte:
-
Olhe,
desculpe, boa tarde.- Boa tarde.
- Podia informar-me como vou?
- Como vai?
- Sim. Como chego lá.
- Como chega lá, onde?
- Como assim, onde?
- Sim, onde? Para ajudar a chegar, ser-me-ia útil saber onde quer chegar…
- Eu quero ir para lá. Hoje, tendo de descrever porque procurei uma mão para me guiar, terei de dizer – Lá é onde, em cada minuto em que acordo, decido ser a melhor, para mim e para os que me estão próximos, sem necessariamente uma consequência entre um estado e outro, mas estando eles absolutamente consequentes, mas sem dar por isso, assim de forma naturalmente simples, como que acontecendo; lá é onde, em cada minuto em que acordo, olho para trás e vejo que estou cheia, houve o que custou, mas encheu de tal forma que transbordou porque cheio de plenitude, porque cheio de cheio, simplesmente cheio; lá, eu encontro-me e não deixo de ser como sou; só tenho de o encontrar (des)planeadamente… só para ser surpresa. Entende?
……………………………………………………………………………………………………………
- (coçando a
cabeça…) Bom… siga em frente, então. Pode apanhar umas curvas pelo caminho, uma
ou outra bifurcação onde terá de escolher um sentido, mas estou certo que há-de
lá chegar…
Lá.