sábado, 17 de outubro de 2015


Tecnologias.

Nunca fui muito afoita a estas coisas de… “tecnologias”.

(nem vou, aqui, confessar que a cadeira a que mais chumbei naquela coisa nominável e formalmente chamada de IST, foi mesmo “Programação”… Lá a fiz… com alguma batota…)

Bom. Não sou muito dada a essas coisas, mas, desde que tenho um “esperto-que-fala-responde-regista-e-se-move”, lá as vou utilizando.

Meo music, plataformas sociais e profissionais, inbox, weather, booking, youtube (que hoje não me larga desde quase que acordei…), 2houses,, itsappning, google photos (com uma aula personalizada para perceber como funcuiona essa coisa), calendar.

No outro dia (em abono da verdade já havia feito tal coisa antes, mas sem nunca me aperceber de tal pormenor, possivelmente porque o tal do “pormenor” não estivesse tão presente como naquele momento), estava eu no “calendar” registando um aniversário, vira-se o “esperto”, em dado campo, e pede-me para inserir valor em

“PARAR REPETIÇÃO”:

(não vão vocês ou os vossos “espertos” serem mais desatentos que eu ou o meu, seguirá, mais abaixo, comprovativo. Mas não no já, já…).

O tipo atreveu-se a dar-me a escolher:

“após ene repetições”

 “todos os domingos

“sempre, no último dia vinte e nove de cada mês

“até à data de xxx


Armei-me eu Deus e, determinantemente, nominavelmente, inseri o meu mais profundo desejo.

“Parar repetição?

“Nunca”,

meu caro “esperto”.

Embrulha e nunca te esqueças. Fiz questão de deixar registado em teus bits e bytes de ser esperto e incontestável.

Duvidas?

Ora vê:

E vê lá se te atreves a desafiar-me…



(PS - eu não dizia que não era lá muito dada a estas coisas?... depois de uma série de tempo a tentar por a foto que demonstraria o "Nunca" lá bem registado - acreditem, ela existe - desisti... há que ir à vida e há uns "Os" que me aguardam para jantar... pelo que... acreditem, se assim o entenderem...)



Haverá lá cegueira maior?...



“Oh, melancolía”.

Meus queridos sacais. Podem crer que não, mas estão cá.

As ironias, os sarcasmos, o que nos faz sorrir.


Na mesa ao lado
(“te amaré y después te amaré”),
acompanham-me, depois de ter ido ao chinês da Pascoal de Melo e ter comprado uns auriculares que me permitissem estar onde estou e transitar entre o que ouço e o que observo e o que escrevo e o que penso, cinco mulheres sentadas em torno de uma mesa. Idade, em média, pelos setenta e, isso, só estragado pela presença de tenro especimen de uns cinquenta.

São só mulheres. Conversam. Riem. É bom imaginar os seus sonidos.


Portas abaixo (poucas) da outra, da definida (ao contrário daquelas), já em estado indefinido, que já não conversa, só balbucia, palavras sem nexo, pelo menos do comum, “hasta el fin de los tiempos”.

Há dias (definidos), datou-se seu nonagésimo terceiro aniversário. Cinco prédios acima daquele em que me encontro agora. Muito mais definido que este onde me encontro; já muito menos palpável que este onde me encontro, onde posso, -bastando, para isso, atirar uma mão e um dedo - sentir o frio de uma cadeira de ferro, o húmido de um copo, o quente de uma chávena fumegante.

Cento e sessenta e sete, sexto direito.

Ignorar Anúncio

“Ojala”



Percebi, nesse dia, que, para além das juntas que me vão acompanhando em minha vida de manutenção de infraestruturas (estruturadas paredes e pavimentos e redes), como as fracturantes ou as cegas, existem as que, com visão raios-X, são ainda mais cegas que as cegas, as que não deixam passar nada.

Este texto já foi outro. Mas, como já escrevi já para mais que 1 ano, as crónicas são de momento.

Que, de quando em vez, entre o bater na cabeça e o bater nas teclas, se (es)vai. Se transforma.



(“Ojala por lo menos que me lleve la muerte”

“Ojala que no pueda tocarte ni en canciones”.
Ou em orações. Digo eu).



Pômo-nos ouvindo “queira Deus” quando, finalmente, encontramos caneta e papel e momento e determinação para despejar e este já se transformou em outro – mais confuso, mais amargo, mais contido, menos

(“jo no sé lo que es el destino”)

sarcasticamente risível…



Um ano. Mais que um ano. Ao ponto de quase esquecível. Houvesse os que, determinantemente, necessitam.

Um ano (mais que um ano) depois, foi enviada carta com apresentação de indeferimento a pedido de complemento de reforma devido a demência do tipo Alzheimer, previsto legalmente, diagnosticado, formalmente, a contar desde 2008 – apesar de eu saber que não chegaste a saber quem era a definitiva Maria; a que baptizaste de Maricotinhas, mesmo ainda antes de existir.


(“Ya no te espero”, não.

A esperança só é a última a morrer quando nos negamos ver a morte.)


Indeferido. Ao abrigo do ponto 2 do artigo não sei quantos do decreto (definido, porque escrito) que, em simultâneo, o prevê.


(“Porque de esperarte hay odio”)


Ao abrigo de parecer de palavrão-que-não-fixei-mas-que-é-a-comummmente-designado-de-“Junta-Médica”, o qual, de acordo com o texto, não se enquadra no previsto no tal decreto(-de-lei), conforme parecer de 16 de Setembro de 2015.



- Não percebo. A Cia foi vista por alguma junta médica nesta data?

- Não; ninguém cá veio.



Juntas cegas não mentem. Olho para elas e vejo, claramente, uma entrada e nenhuma saída.

Juntas com visão Raios-X são perigosas. Podem, até, ver o que já se (es)foi.

E indeferir o mais que definido em uma só linha.



Cegueira pior será a dos que julgam ver e não vêem.

Os “Os”


Só o viver, definitivamente, nos faz.

Só o viver faz artigo indefinido, singular ou plural, transformar-se em definido, total, plural, e, absolutamente, singular.

Que interessa passar por tantos “um” ou “uma” ou “uns” ou “umas”, se não os transformar-mos nunca em O, A, Os, As?

Que interessa olhar para trás ou vislumbrar o frente e ter: “Um dia, vou…”, “Houve um homem que…”, “Há um músico que…”, “Uma vez, fiz…” sem que tenhamos os “Os” - nos nossos textos, nas nossas memórias, nos nossos futuros, nas nossas estórias contadas ou por contar ou, até, simplesmente sonhadas.

“Solo le pido a diós” que “no final desta viagem” (que ouço agora, mesmo que com outro nome, porque castelhano) olharei para trás e nomearei

todos os homens, todas as mulheres

todos os lugares, todos os momentos

todos os sonhos

todos os dias

todas as esperanças, todas as loucuras

todos os livros, todos os músicos

todos os delírios, todos os orgasmos

todas as desilusões, todas as ilusões

todos os medos, todas as certezas

todos os cantos, ruas esconsas

todas as vidas, todas as mortes

todos os canalhas

todas as lutas, todas as vitórias, todas as perdas

todos os amores, todos os desamores

todas as verdades, todas as omissões

todos os futuros, todos os passados

e verei ver neles definidos artigos singulares (mesmo quando plenos de pluralidade) e adormecerei sobre eles e não mais acordarei, com a certeza e tranquilidade de saber que Os vivi. Determinantemente. Nominalmente. Individualmente.

Se vivo, é graças a vocês: os determinantes; os singularmente plurais; os definidos. Os "Os".

Foi ontem? Será amanhã?



Meus queridos sacais.

Hoje, é, efectivamente, dia dezassete de outubro.

Esta, efectivamente, não foi escrita hoje.

Foi escrita há dias, em caderno (por acaso, ainda vermelho, mesmo que outro), e, até eu, demorei uns minutos a (re)entendê-la, até que data, vivências e emoções se misturaram como deve ser e deram origem a finalmente.

Enquanto ouço, hoje, dezassete de outubro do ano de 2015, “Quien Fuera” (enquanto fora…), depois de “te molesta mi amor” e, penso, mi molesta tu disamor…:



Eles eram muito pequenos quando ficou assim. E, agora, já quase a esqueceram; ela já os esqueceu há tempos. Eles, continuam pequenos. Mas só até amanhã.


domingo, 4 de outubro de 2015

A sorte é para quem a tem



Conheci uma mulher (uma tipa, uma gaja, uma senhora qualquer) que me desatou a falar de sorte e de amor. Ciente de que ambas fazem parte do grande jogo.

Ao contrário dos proverbiais, a sorte havia-lhe batido à porta mais que uma vez, não sabendo, no entanto, se era por ela (merecedora), mas sem nunca ela lhe ter fugido, pelo menos no instante imediato.

De cada vez que a sorte lhe bateu à porta, ela abriu-se – diria que nunca descontente –, mesmo sabendo que esta acabaria (sorte dixit), um dia.

Pagou a sorte com amor (arriscou, também, pagar o amor com a sorte, a sorte com ela própria e o amor com ele próprio) e coração forte, não fosse ela transformar-se em maléfica, o que nunca lhe ocorreu, conscientemente, porque tanto lhe fazia saltar como acolher. Sem escolher idades.

Não tinha tido amores como o primeiro tão simplesmente porque, de cada vez que estes que batiam ao corpo, eram sempre um original (mesmo sendo “um” um artigo muito pouco definido).

Chegou a imaginar morte a tal sorte, mas conseguiu ausentar o suficiente a própria memória em prol de um melhor remédio em face do maior dos males.

Cruzou-se com sortes “tão vivas, tão sãs, tão puras” que as julgou loucas e tudo lhes permitiu, mesmo que em guerra.

O amor não lhe foi cego porque lhe viu os corpos, os olhares, os sexos e o muito mais ao longe, forte, como a morte. Não se sentiu nunca forçada a isso, mas chegou a obrigar-se a ser cega por amor.



A mulher (a tipa, a gaja, a senhora qualquer) não me deu tudo isto (já se estariam os meus queridos sacais questionando “que raio de conversa foi esta!!!”), mas emprestou-me todas estas palavras.

Efectivamente, o que disse (terá dito?) foi:

“Se houve azar que tive ao jogo, foi o de ter tido tanto amor que não soube como o tornar, em cada um dos momentos, em sorte.”


sábado, 3 de outubro de 2015

"How do people become so miserable?”



No outro dia estava a ver uma série qualquer na televisão (bom, na verdade não posso verdadeiramente dizer que a estava a ver, porquanto estava mais distraída que entretida; eu nem a tinha escolhido – desde que o comando se avariou ou ficou sem pilhas, ainda não sei, que carrego no botão do ON da TV e deixo estar no canal que já estava sem dar propriamente muita importância ao que sai do écran, mas aproveitando as vozes para fingir presenças que não estão) quando ouvi:

“How do people become so miserable?”

E li:

“Como é que as pessoas se tornam tão infelizes?”


Eu conheço aquela cara de algum lado (não a encaixo de imediato porque a associo a uma qualquer série cómica e não consigo que os olhos brilhantes de emoção e tristeza façam parte de uma face a que me habituara a ver rir ou ironizar).

Eu também conheço a cara do receptor daquelas palavras de qualquer lado. Ai conheço, conheço. E apercebo-me que o tinha visto na véspera, talvez até no mesmo laboratório de medicina legal, comentando que a sua vida era a ciência e que não tinha espaço para além daquilo, declinando um convite para sair, recusando-se aceitar que havia sentimento para além daquelas portas, olhando de alto todos os que se atreviam a viver.

Olha lá, gaja-que-está-infeliz-mas-cuja-expressão-não-encaixa-em-cara-bem-disposta, mas tu estás à espera que o tipo te dê alguma resposta de jeito? Não vês que ele nunca lá há-de chegar? Não percebes que, para chegares a tamanha tristeza foi preciso teres conhecido uma enorme felicidade? Esse que está à tua frente nunca viveu; não sabe o que é isso; só faz de conta; tu respiras e, se estás absolutamente infeliz hoje, pode ser que amanhã passes a feliz, quem sabe até (ele não; ele não sabe) com um simples estalar de dedos fortuito.


PS – eu já te vi em papéis em que estavas feliz; não deve ser fácil ter de mudar assim tão bruscamente; se se tornar insuportável, despede-te e regressa, sim?


Os sete pecados vitais ou A adaptação da adaptação do original


Fui ontem ao teatro: “SETE PECADOS MORTAIS ou AS TÉCNICAS DE LEGÍTIMA DEFESA”

Gostei. Houve uma ou duas coisas que não consegui reter do texto e em relação às quais pensei que gostava de pedir ao autor que me emprestasse as palavras.

Há que pecar. Concluo eu.


Vamos para o trabalho, desanimados, e deparamo-nos com um problema novo, desafiante e desejamo-lo todo para nós, porque um desafio; porque não estamos preparados para o novo, mas estamos apaixonados pelo que representa; agarramo-nos a ele como se fosse um osso, uma bóia; não o partilhamos e rosnamos a quem se atreva a aproximar-se e a enfrentá-lo e a não nos deixar ganhar.

Chegamos a casa, olhamos para o nosso homem e enchemo-nos de gulodice por aquele corpo e dizemos-lho ao ouvido para que saiba, enquanto dure, que queremos tê-lo sempre mais e mais.

Lemos notícias depois do jantar e odiamos o que os nossos olhos captam; não passamos à frente porque sabemos que é necessário que o mundo ainda nos encha de raiva, para que nos possamos combater a nós próprios e saiamos à rua para travar o que ainda não foi travado e que pode nunca ser travado, mas continuando a acreditar que possa ser travado.

Lembramo-nos, com um estremecimento, dos grandes. E deixamos que o nosso sentimento atinja um culminar de altivez por todos aqueles que sabemos terem lutado, por ira ou sem ira, mas que conseguiram um momento melhor por alguém ou uma causa.

Estiramo-nos no sofá e pegamos num livro ou pomos a nossa mais recente “playlist” do Meo Music e deixamo-nos ir com eles, com os nossos deuses, e pensamos: o que eu gostava de um dia escrever algo que chegasse a estes calcanhares.

Passamos pelo quarto deles – já dormem – não lhes damos beijos porque já dados e tememos despertá-los, deitamo-nos no chão, ao lado, e deixamo-nos envolver pelo fim de mais um dia, não deixamos que a nossa mente se empenhe em mais nada que não seja no ritmo lendo das suas respirações.

Chegamos ao fim de mais um dia e vamos para cama.
Não adormecemos logo, porém.