sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Estúpidos

Os ditados são muitas vezes muita estúpidos.

Para quem esteja, já, pensando em "mas onde é que o sacal de hoje vai parar?", respondo:

"Não conheço ditado mais estúpido que o "Quem espera sempre alcança"."

E, por hoje, é isto.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Perdoem-me, mas Foda-se



Olá meus queridos sacais.

Hoje, a meio termo de 2ª semana-não consecutiva, saí do trabalho relativamente cedo (para horário semana-não), entrei no carro, vim para casa, estacionei em lugar que, possivelmente amanhã, quando sair, terei de fazer esforço para recordar, subi, mudei de roupa, aqueci uns restos que tinha da outra semana-não, comi cedo (e cedo é agora, também), determinada a  deitar-me também cedo, para que o dia de amanhã consiga ser longo.

Fiz alguns contactos pendentes, ainda tratei de algum trabalho, relanceei, muito superficialmente, as redes, fechei o telemóvel, liguei a tv em modo canal-de-entorpecimento (neste caso, em mais uma série cheia de mentes perturbadas, que fazem coisas horríveis e que nós vemos sem que nada sintamos, que não um ligeiro torpor de adormecimento) e preparei-me para me ir desligando, embora atenta, em estado de semi-vigília.

Eu não “desliguei”.

Nem “fechei o telemóvel”.

Nem “liguei a tv”.

Eu não entorpeci.

Ao invés, volvei teclas atrás, imagens atrás, memórias, dias e anos atrás e comecei a sentir um calor insuportável, um estremecimento de mãos que vinha de dentro e que me disse, quase num imediato, que não conseguiria fechar sem aqui vir.



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Que raio de animal morto somos nós, que precisamos de saltar de uma ponte com os pés presos a um elástico, para nos sentirmos vivos.

Que raio de animal protocolar somos nós, que precisamos de sentir que aquele que amamos nos está a deixar para dizer “eu amo-te”.

Que raio de animal despreconceituoso somos nós, que precisamos de ter um amigo
preto,
homossexual,
mulher,
chinês,
velho,
franzino,
muçulmano,
deficiente,
para que consigamos olhar a diferença sem que nos lembremos, sequer, que ela lá está.

Que raio de animal forte somos nós, que precisamos de cair e nos magoarmos, para sabermos como seguir em frente.

Que raio de animal desatento somos nós, que necessitamos que ocorra o massacre, para que passemos a ser todos Charlie ou todos judeus ou todos americanos ou todos palestinianos ou todos sírios ou todos ucranianos ou todos sérvios ou todos bósnios ou todos soviéticos ou todos espanhóis ou todos indianos ou todos tutsis ou todos... tantos são os todos...

Que raio de animal descrente somos nós, que precisamos de sentir as coisas por um fio, para que nos apercebamos que “as coisas” não são coisas; são tudo aquilo que já lá estava, já existia, mas para onde nunca tínhamos sequer olhado, não tínhamos dado atenção, porque absortos em fazer e ser o que nos é esperado por um outro qualquer animal descrente, mesmo que sendo ele próprio, nós.

Que raio de grandes bestas somos nós, que precisamos (e precisamos) de ver o corpo de uma criança de 3 anos morta à beira da maré de uma qualquer praia turca, para que sintamos que temos de fazer alguma coisa pelas gentes.

E por quanto tempo?

Que raio de animal somos nós, que precisamos de chegar ao limite para que descubramos, de facto, o que queremos ser. Mesmo que este ser não o seja para todo o sempre. Mas que o seja, naquele momento, infinitamente.

Que raio.

E, perdoem-me, mas “Foda-se!”.