quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

O que ela diz e em relação ao qual não tinha saudades...


Já por uma ou outra vez expus aqui, em formato de discurso directo, os meu príncipes.
Escrevo esta frase, desta forma, porque teria de a alterar caso não tivesse o entre vírgulas.
Seria tão mais que uma ou outra vez...
É certo que não o faço há muito. Mas tal não me deixa saudades.
Simplesmente porque

(cuidado! estou prestes a fazer uma revelação para a qual poderão não estar preparados! pode até ferir as susceptibilidades dos mais sensíveis! por favor, desliguem o ecran se não se sentirem preparados);

simplesmente porque:

A Vida não está toda aqui!!!!!!


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Posto isto, questionarão vocês, meus queridos sacais, então que estou eu aqui a fazer?

Posto isto, respondo-vos eu, meus queridos sacais, estou aqui para vos alertar que há princesas poetas e que, de onde esta saiu, muitas outras saíram mais.
Muitas mais sairão
(digo eu, em tom mais ousado).



M (claro!):
"Quando fores, não me dês beijinhos.
Quero achar que ainda aqui estás."

domingo, 4 de dezembro de 2016

Os mosaicos do chão da minha varanda


O chão da minha varanda são mosaicos quadrangulares, de cor pele, pequenos, com uns 5 por 5 centímetros cada.
A minha varanda não é enorme. Mas grande, principalmente considerando que a varanda anterior não existia.
Em cada 5 centímetros, num sentido e no sentido que lhe é imediatamente perpendicular, aparece uma junta.
Cada milímetro de cada uma dessas muitas juntas, sente o céu que se desaba, neste Sábado que ainda não é de Inverno e que se seguiu a alguns “ontens” em que o céu também desabou.
Os milímetros-junta são muitos. Como o que o céu lhes dá.

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Há chãos que não têm forma constante em dicionário ou manual de geometria. Cor de pele, também, mas mais dificilmente mensuráveis.
Não fazem corpos enormes, mas grandes o suficiente, mediante as anteriores existências, que foram tão grandes que temos de esperar suplantá-las.
O que os junta, não tem só um sentido e o que lhe é imediatamente perpendicular. Percorrem qualquer sentido. Ultrapassam os sentidos.
Cada infinitesimal fragmento das juntas que os constituem, sentem mundos que desabam depois de “ontens” em que vários mundos também desabaram.

São inúmeros, os fragmentos. Incontáveis. Como o céu.

São tantos, os pontinhos


O meu corpo tem tanto pontinho que nem os consigo contar.
Às vezes atrevo-me, feita bruta, e digo-lhos:
- Olhem lá! Vocês sabem que não existiriam sem mim, não sabem? Então não acham que têm uma enorme lata ao nunca me dizerem quantos, efectivamente, vocês são? Como esperam que eu vos trate como merecem, se não se dignam a deixar-me contá-los? E logo eu, que vocês já sabem que tenho tanto de inexacta, como de exacta e que preciso quantificar a todo o instante!!
Inútil. Não me contam nada, os estafermos. Deixam-se ficar todos bem juntinhos, contaminando-se, construindo-me, falando uns com os outros (eu bem os ouço, por vezes, em burburinho), a mandarem uns bitaites lançados quase que a despropósito, a más horas, zangam-se, contradizem-se e obrigam-me a passar para gestos aquilo que os possa satisfazer, aconchegar, serenar, mesmo que contrariando os pontinhos do lado.

É por tal, e não por outra razão, que quando os sinto em uníssono, concordando, a tão más horas que me acordam de sono que julgava profundo, tenho tanta dificuldade em encontrar os gestos suficientes que possa enviar para os sítios certos e transformar a dor que sinto sair por todos os pontinhos do meu corpo em algo que deixe de o ser.
Só porque não sei quantos são.

sábado, 19 de novembro de 2016

No teu corpo


O meu corpo,
contigo,
é mais corpo.

Os ossos tornam-se mais maleáveis,
os poros abrem-se,
as mãos atrevem-se. Dirigidas.
A boca explora,
pêlos são sorvidos, como em carícia;
pélvis ajeita-se em cadência de acordes não acordados,
em compasso, compensado.
Os olhos cerram-se,
enquanto cabelos voaçam, percorrendo corpo.
As pernas estão mais tensas, estreitam-se;
uns dedos mais esticados para a nós chegar;
outros dedos mais suaves, mesmo que em urgência de toque. Espraiam-se. Encorporam-se.
Os braços descobrem vigor só por te embraçar.
Descubro mais músculos, mais movimentos, mais força.
As coxas, urge-se!, procuram, compelem-se a ser mais palpáveis,
ora se apartam para te deixar entrar; ora se unem para não te deixar sair.
Ora se vêm;
ora se vêm.
Ora se baralham e não sabem, já, onde reside entrar e sair.
Estômago desenvolve ritmos de trabalhador,
coração discorre-se em cem metros de barreiras não esperadas,
pulmões estão mais inspirados
(sopra, inspira, sopra, expira, sopra, respira),
é nosso - o peito em seus descontidos sons des-uníssonos.
A fantasia abre-se,
tão aberta, arrojada, envolvente. Dissolvente.
Língua mais absorvente,
garganta mais profunda,
pele mais sensível
 - tão, tão sensível; estimulada, abraçada, sentida, percorrida; ah como ela se torna tão percorrida..., como se fora querida.
...

No teu corpo, eu deixo de ser o meu para ser o meu em teu.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Frases 5


(I got used to "in and out" beings; more than parachutes; io-iôs!; (...) One often gets to be what one gets),

escrevo há dias e releio entretanto e fico pensando em todos os io-iôs que já viveram a minha vida, que não se deixaram ser apenas
in
out,
e foram
in
out
in
out
in
out
in
out.
Out.
Out.
E eu permitindo e indo. E vindo.
e indo
e vindo
e indo
e vindo
e indo
e indo
e indo.


Io-iô.

Um acto, de facto


Eu conheço um acto,
de facto,
que, quando do suor
– mesmo daquele que não escorre; o que, assim que se cria, logo se evapora, de tanta velocidade –
nascido,
(e dado)
consegue transformar-se em qualquer outro acto
assim o tenhamos vivido.
Experiência própria e barriga cheia.
Fado empírico.
Desde há muitos idos anos,
intermitentemente:
ora agora mando eu, ora agora mandas tu;
que engraçado! Enviámos ao mesmo tempo!
Ora agora já não mando, ora agora já não recebo;
ora agora até já
que a hora agora é de pausar.
Hummmm… está bem. Só mais umas poucochinhas. Em breves linhas.

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Desde talvez demasiado tenra idade que as troco. Naturalmente que lê-las também é uma forma de trocar. E, pensando bem, escrevê-las terá de o ser também. E com estes dois actos, não haja grandes dúvidas, conseguimos suar já bastante.

Só que hoje (foi hoje; amanhã já poderei discordar) dei por mim empiricamente pensando que trocando-as, parece que as vivo - em riso, em prazer, em tristeza, em gozo, em brincadeira, em sofrimento, em desafio, em dor, em felicidade, em desespero, em tanto, em tudo - também.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

É só uma fase, Rita


Muito do que nos constitui são as nossas mais que diversas características. Algumas delas são mais preponderantes, comummente designadas por “aquilo que nos faz sermos quem somos”.

Agora, imaginem que, por alguma razão não traumática, de forma, até, consciente, passamos uma fase (dá-me jeito chamar-lhe uma “fase” para me sentir melhor comigo mesma; permitam-mo!) em que resolvemos alterar de forma drástica alguma determinada característica daquelas que nos fazem sermos quem somos.

De uma forma directa, exactamente porque estou a ser demasiado explícita em relação ao tema e achar que estas reflexões ficam melhor entregues em entrelinhas e não oferecidas em badeja, não vou aqui descrever ou sequer mencionar a que me refiro.


Eu hoje só queria colocar uma questão: acham que considere provisoriamente mudar de nome?

domingo, 13 de novembro de 2016

4 ou 5 linhas de horas e suor


É difícil olhar para algo tão pequenino e perceber que por detrás estão tantas horas e tanto suor.

É difícil, quando acompanhamos, mesmo ali ao lado, pegando a mão e gritando em desuníssono na tentativa de dar “Força! Já estou quase a vê-lo!”


Torna-se impossível quando tantas horas e tanto suor estão por detrás de mãos que não dão sequer para pegar, porque têm dedos hiperactivos que percorrem teclas, cordas, barro, pedra, rato, caneta, um sem fim de meios, para chegar a, por exemplo (e isto é só um exemplo), 4 ou 5 linhas.

Leve, levemente


Estava eu muito bem passeando pela brisa de uma tarde (eu não faço a mais pequena ideia se foi uma tarde, uma manhã ou uma noite, mas, quando jogamos com palavras, mesmo que roubadas, damos por nós transformados em seres atrevidos), quando começaram a chover potes de palavras com expressão diferente, cortantes como canivetes, determinadas a molhar-me que nem tolas, em pingos moles, dos que furam.

Porventura, eu já chegara àquela tarde molhada e seria como chuva em vão.

Mas não. Era chuva abençoada. Roubando, abensonhada.

“Poesia!”, espirrei!



E fui molhar-me, não fosse apanhar uma valente constipação.

sábado, 12 de novembro de 2016

O direito do 9 de nevembro de 2016


Uma foto de avental com balde consegue chegar às 92 reacções (agora temos de chamar-lhes reacções; os gostos já podem ser substituídos por adoros, risos, surpresas, tristezas e iras), sendo que estas reacções incluem gostos e adoro, já para não contar com mais 8 comentários escritos, para além de outros, falados.
É uma bonita fotografia, sim. Registada com amor, também.

Ira, senti. Com alguma, já pouca e desse dia em diante quase nula, surpresa.
Não pelas 92 mais 8 mais qualquer palavrinha.
Mas pelas, em média, 8 reacções sacadas no 9 de Novembro de 2016. Não vale contar repetidos, pelo que me reduzo à média. Mas não. Atrevo-me a fazer um somatório. Três pensamentos de Rita Fonseca geraram 28 reacções, 7 comentários escritos e… bom, aqui, para ser sincera, confesso que passei o dia zangada, indisposta, enjoada e não era possível sequer chegar à minha beira para dizer fosse o que fosse sem que eu gritasse alto, pelo que os comentários falados foram praticamente inexistentes (o praticamente deveu-se a carinho sentido por uns; pontual; e uns repetidos, também).

Gostava de poder acreditar que é porque o amor consegue mais reacções que a ira ou a surpresa.
Gostava de poder acreditar que seria por ser dia quente (mais que o outro, apesar de o outro ter sido em véspera de último dia do mês de Julho e até estar de manga cava na varanda enquanto que neste dia 9 de Novembro de 2016, não chovia, estava ameno, mas às 6 e meia da manhã, na varanda, envergava pijama quentinho e uma manta sobre as pernas) e com quilos de informação a saltar a cada instante o que tornava difícil reagir a todas.
Gostava de poder acreditar que seria porque (está provado, mais que provado, por todos os estudiosos de redes sociais, publicidade e afins – não me lembro de alguma vez ter sido testada para tal) uma imagem é sempre mais apelativa que qualquer texto, mesmo que curto, apenas com 3 palavrinhas.

Mas não acredito, sabes, Sacal.
Deixei de acreditar exactamente porque aquele 9 de Novembro de 2016 tinha acontecido já.
Foi o dia de todos os enganos. De todas as traições.
Não lamento, Sacal. Não consigo lamentar o que senti, reagi e despejei nesse dia. Não consigo lamentar sentir-me enganada e ter ficado pé atrás desde esse dia. Acho que tenho direito a tal. Afinal, como tu bem sabes, eu sempre acreditei muito. Acreditava sempre e depois desiludia-me e depois acreditava e depois sentia-me estúpida e depois acreditava e só quando dava uma violentíssima queda, começava a sentir.me enganada. Pelo que tenho o direito de, por uma vez, logo à primeira, deixar de acreditar.

Porque o 9 de Novembro de 2016 existiu. Tenho o direito.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

São só anatomias, ok?



“Uma grande parte de mim é criança. Eu diria que para aí uma perna inteira, de virilha a tornozelo; pé, por alguma razão, sentindo-se excluído.”,
dei por mim pensando em tal, enquanto imaginava necessidade de me descrever perante pergunta que imaginei também.

Não saía disto. Questionava-me sobre “como descrever-me” e não saía da perna. Tentei passar para a direita, porque, de alguma forma, associei a perna esquerda à descrição de mim – coisa mais estranha, com franqueza; pensar em ter de me descrever e só me sair isto: perna esquerda feita criança; obriguei-me a olhar a outra e pensar “Se uma é criança, esta é o quê? Tem de ser outra coisa qualquer, bolas! Não me posso descrever apenas com uma perna!” -, mas minha cabeça não saía daquela. Eu bem que tentei forçá-la a interpretar outras partes do corpo, mais internas, mais sentidas, mais associadas ao descrever de nós próprios… Sem qualquer sucesso... Não havia maneira de a tipa (que é muito teimosa) se dirigir à interpretação do coração, dos olhos ou cérebro. De cada vez que a forçava, lá começava ela a mirar joelho, coxa ou tíbia esquerdos, feita íman, hipnotizada.

Eu também desisto. E como tendo a dar muita importância aos desvaneios da minha mente (isto só podia ser um devaneio…), propus-me tentar entendê-la:

“Criança, como? Infantil?”
Não, claro que não! Como raio pode mulher de já não tenra idade e com algumas responsabilidades, dar-se ao luxo de ter uma perna inteirinha de infantilidade? E logo tu…
(Este, “logo tu” deu-me alguma esperança de estar a falar com alguém que tinha conhecimento de causa…)

“Criança, como? Risonha e brincalhona?”
Disparate! Tu só sabes o que é ser risonha e brincalhona desde que te tornaste “crescida” e, maioritariamente, é-lo ironicamente, em defesa, e as crianças demoram anos até aprenderem a usar a ironia. Tantos, que deixam de ser crianças.

“Criança, como? Assimiladora?”
São grandes assimiladores. Mas é característica que se pode manter até sempre.

“Criança, como, cabeça? Diz-me lá. Sinto que esta tua teimosia tem algo por trás. E eu tenho coxas grossas. É muita criança que estás a por dentro de mim. Por que raio, ao tentares descrever-me, te vidras tanto em ser-me criança? O que faltou, para não conseguires matar esse tempo de mim ou, pelo menos, reduzi-lo a unha de dedo mindinho?”
Não sabes? Parece-me tão óbvio…
“Mas eu já sou tão crescida… Toda uma perna?...”

Imagina que tens necessidades. Básicas. Imagina que tens sede. Imagina que não há água que chegue a ti. Que acontecerá?
“Continuarei a ter sede. Poderei, até, morrer dela.”

Imagina que, depois de morta de sede, te oferecem um copo de água…
“Já estarei morta. Mas, como de sede, sorverei cada gota. Assimilando, rindo, brincando com elas; infantilmente, porque estarei crendo que não será copo, mas sim fonte.”
Que depois seca.
“Seca?”
Sim. Será copo. Não fonte.

“…”

“Não quero. Quero fonte de água.”
Não há.
“Não?”
Não houve. Lamento.
“Isso significa que terei sempre sede?”
Até que encontres oceano que te dê de beber.
“E que sede senti eu em criança?”
Ora!!! Mas era só o que mais faltava!!! Terei de dizer-te tudo, chiça?
(Digo… bolas!)
“Bolas! é para os putos…”
E não só…

Que sede sentiste, em criança?
“Tantas.”

Que sede sentiste tu, em criança?
“Tanta… Não havia rio que se lhe equiparasse…”

Que sede sentiste?
“És incisiva, tu!”

Muito. QUAL A TUA SEDE DE CRIANÇA?
"Não quero e não vou dizer. Também tenho o meu orgulho e pontos de timidez. Aceitas?"
Aceito. Em tamanho de perna com coxas grossas.


"Que alívio. Já me sentia entre espada e muro.
Já que aqui chegámos em conversa… dás-me uma festa? Pode ser na cabeça… ou pela perna esquerda. Acho até que, se te dirigires a pé, atingirás perna esquerda. Eu preciso. Dás?"
A meu jeito. Confluente. Ok?

Ok.

sábado, 22 de outubro de 2016

Anti-frases


Sinto-me uma anti-frase. Aprecio mesmo ser do contra. Porque, quanto mais não seja, fomenta a discórdia em modo de diálogo. Puxa por nós ao ponto de nos obrigarmos a refutar. E a ouvir. E isso parece-me ser muito bom, nos dias em que quase nenhum de nós critica e, se o fazemos, é porque alguns muitos já o fizeram antes e nos sentimos mais à-vontade, acompanhados e, acaso contra-criticados, não estaremos sozinhos e teremos quem defenda connosco.

Uma série de infelizes circunstâncias me inibem de mostrar-me. Infelizes, porque representam vergonha de mim.

Mas continua o gozo do contra-argumento. Mesmo que só pensado. E, que melhor sítio para o sacaletalizar que este. O próprio.

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Um primeiro exemplo:

"Eu gosto de gente que sabe ser sol, mesmo quando a vida está nublada."

 Sim. Eu amo a minha M.

Mas...

Eu também me debato por conhecer as tuas nuvens, mesmo quando a vida está soalheira; e como elas se moldam e mudam de cor, conforme o vento ou a pressão atmosférica ou o grau de humidade. E de percorrer seus contornos e tons e me aventurar na interpretação do que os faz mudar, contorcerem-se ou continuarem quase estáticos, em forma, mas em translação até escurecerem ou se desvanecerem. E recorro a instrumentos de ciência exacta: para medir altitudes, velocidade de vento, ângulos em relação ao desnorte. Desenho-te em tuas diversas posições reconhecidas por mim e outras e faço por as transpor para as nuvens que constróis e escondes; porque está sol e tu sabes bem sê-lo, mesmo quando te enublas.

E eu quero-te nuvem.
Para a interpretar.

 

Fazer Amor ou A Refeição Completa


Eu faço amor com qualquer bem.

Amo, atacando com cautela e detalhe as tripas de meia dúzia de sardinhas; mesmo que tal signifique que minhas mãos não lhes perderão o cheiro durante dias. Removo todo o acre do animal: indicador ligeiramente curvo, em movimento lento e profundo. Até às entranhas. Com carinho, e até algum pudor, pego-lhes pelo rabo e deixo que o fluido-água escorra pelos seus corpos distendidos na palma da minha mão, para lhes tirar as tantas escamas. As que podem fazer engasgar garganta demasiado sensível.

Amo, ao untar, com mistura previamente preparada com azeite, sal e ervas finas, um longo e espesso lombinho de porco. Passo minhas mãos lubrificadas, iniciando-as em alguma extremidade até se precipitarem no seu fim e sinto a sua textura macia e áspera; porque é possível sentir macio e áspero; basta juntar à ponta dos dedos toda a palma de uma mão; ou de ambas. E deixá-las percorrer longo e espesso pedaço de carne.

Amo. A sobremesa. Exige maior concentração e nem sempre esta chega ao final da refeição completa nas melhores condições. Estudos aprofundados; análises; reaccções químicas; medições exactas em momento em que a exactidão já se foi; pela exaltação. Pelo que, por amor, terá de ser preparada antes, mesmo que servida depois. Ou como início do restante. Em camadas; sobrepostas; ao milímetro, para bem encaixarem; doces e acres, por forma a criarem o equilíbrio do contraste; do ir e do vir; do dar e do receber; da subida dos níveis de açúcar, seguida da subida dos níveis de acre; do veloz e do lento. Em cadência. A sobremesa é conflito. Batalhas de colheradas que terão de ir até ao fundo da taça para se saberem totais. Para saberem a totais.

Completamente.


Eu faço amor com qualquer bem
(alimentar, diga-se, neste sacal - havia ficado incompleto; desde que por um bem; -bom, acrescente-se; em resumo, um bombom, para terminar; com recheio)

Frases 4



"Mesmo que não sejamos, que tenhamos, pelo menos, momentos.",

respondo em escrito quando me desejam a tão cobiçada Felicidade,

o que pode parecer vulgar, mas é difícil de admitir; porque é duro admitir que já nem esperamos chegar-lhe, mas que almejamos por momentos, muito mais que instantes e, isso, no presente, porque, “quiçá?”, amanhã nos contentaremos com os outros: os instantes breves e fugidios que por vezes aparecem na nossa vida e que, por felizes, ainda nos atreveremos a chamá-los de momentos.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Frases 3


"Por mais que vos apague, serão sempre re-escritos*"

"*e isso é mágico",

o que pode ser lido com a crueza de quem lê um relatório técnico e, preso às palavras, vê Mãe a apagar Filhos como se tal fosse natural e tira-lhe a magia asterisco, mesmo que haja egoísmo no que escreve; porque por vezes as Mães (se eu escrevesse os Pais, iriam todos pensar em Mãe e Pai, não é?; façam, então, um exercício de igualitarismo e pensem também nos pais, sim?) precisam apagar os filhos, apagar-se a si próprio, e re-escrever, com lera bem redonda: Eles, Ela, Ele.
O escrever de novo, não apaga o rascunho.  

Frases 2


"O mundo, quando o construímos minimamente bem, não nos reserva surpresas.",

o que podia ser interpretado como um fastio de vida (eu própria questionei a frase assim que escrita, mas, como sei que era bem dirigida, nem pus parêntesis, nem aspas, nem excepções, nem nenhum daqueles extras que pômos quando temos receio de não sermos bem interpretados), mas que, para o contexto e "antenas" certos, pode muito bem siginificar que estamos para sempre acompanhados dos nossos, assim o tenhamos construído, mesmo que durante a empreitada tenha havido momentos de desconstrução sem, contudo, nada a que se possa chamar de demolição. 

Frases


"Hoje, acordei com a alma molhada.",

terei até verbalizado no arranque já avançado do dia; e, em não o recordando, mas crendo, achei a frase bonita, realmente real (chovia, até) e vi.

Um treinador de atleta individual, que está no canto a aguardar um qualquer "gong" que faça chegar à sua beira o seu Homem, para que possa limpar-lhe a testa, passar a toalha nas superfícies do corpo mais fustigadas, atirar-lhe berros de incentivo.

Enfim, secar-lhe a alma.

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Dos amores que se julgaram mortos


Aí há uns tempos descobri, ao varrer o pátio, um coração seco, espalmado, quase inexistente, no chão à beira de netos e filhos recém paridos e exigentes em acções de rega, poda e desbaste.
Estava completamente distraída, ou, melhor, absorta, em dar vida aos mais recentes rebentos da casa, também ela recente, e em fazer com que vivessem e crescessem ao vir para o prato.
Estava eu absorta.
Estava eu a varrer as folhas secas da nespereira.
Estava eu quase a precipitar espigos de PVC sobre ela.
Estava eu quase a enviá-la pá, vassoura e saco abaixo.
Estava eu distraída e acabei com tudo logo ali nesse quase.
Olhei em torno. Não vinha de cá.
Como raio teria tão perfeito amor vindo adoptar tão cimenteiro chão de pátio, sem que eu tivesse dado conta: em loja de vaso ou terra ou semente; de vermelho ou outra cor meio escolhida em torno de meses de sementeira e colheita inscritas em papel plastificado resistente a tempos, meses ou colheitas de ser?
Era de noite e não me levara a nada.
Registei-a, porém.
Até que hoje.
Reguei, podei e desbastei. E encontrei novo amor ali. No meio do chão cimentado. Cinzento. Pontualmente esboroado. Sozinho por entre a carnificina de semeados e desejados.
E dei-lhe a sua oportunidade de, se não ser, Nascer. E levantei os olhos e vi-a. A Morte. Nua e crua, no pátio do 2º Direito. Havia uma morte por ali. Com ramo mais cortado que os outros. Seco. Espalmado. Quase inexistente.
Se, de restantes ramos verdejantes, havia vida, daquele, apenas amarelo-outono sobressaía. E eram esses que esvoaçavam para o meu cimentício pátio.

Todos os amores de ramo que se julgara morto.
E não o estava. Julgara-se, porém.


(Es)tou petulante


Imaginem que eu já fui.
Serei passado, portanto.
História, com muita sorte e vida.

Terei sonhado eu com descritos em livro de escola?
Claro.
Não constavam.
Terão minhas noites ficado em claro com a imagem vazia de campa cheia de dizeres ausentes de louvor em meu nome?
Algumas.

(Es)tou petulante.
Porque mo permito.

Se não aproveitarmos estes instantes, haverá sempre quem os viva por nós.
E, isto, é guerra a eles.
(se fora a nós, deixaria de ser petulante)

Mural



O nosso mural é interactivo.
No nosso mural, temos escrito aquilo que nos vai na cabeça, mesmo que de manhã muito cedo e não tenhamos cabeça para muito.
É um mural que reflecte: se escrevemos que estamos de mau humor, recebemos textos mal-humorados; se enviamos bons-dias, esses mesmos são-nos devolvidos em forma de letras bem desenhadas.
O nosso mural passou pelo facebook e não se deu bem. Porque é nosso e não de todos os “amigos” que nos rodeiam.
No nosso mural, escreveram “I love you 3!”. E lemos e voltámos a escrever e elas não se apagaram. Mesmo que as apaguemos.
Este tem sido o nosso mural. Que se espraia fora janela e portas.
E, a todos, um bom dia! Ou uma boa semana! Ou uma boa vida! Que escolham!












quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Da dor e da mágoa


Não.
Não é mágoa o que sinto.
Porque essa tem de ser dirigida. Por definição, digo eu; mesmo sem consulta a dicionário, apenas com consulta a mim.

Mas.

Que fazer com esta dor, dirigida na sua origem, e que nem em mágoa consigo transformar?

(des)acordares


Há dias em que acordamos (não necessariamente naquele instante em que abrimos os olhos depois de dormir; por vezes até acontece com eles bem cerrados) cheios de energia e vontade de tomar decisões; que digo?!, com as decisões já tomadas, determinadas, absolutamente irrevogáveis;

escrevemo-las, até, no caderno mais recente que nos tem acompanhado, com formato listado, ordenado, priorizado;

tomamos o leite com Nescafé, sentados com as costas bem direitas, olhando o mundo-varanda-terraço de alto; que digo?! – todo o Mundo visível e distante o vemos de alto!;

alongamos o instante em que deixamos escorrer a água do chuveiro sobre o nosso corpo nu, sobre os nossos cabelos, até que ele deixe de ser instante e passe a momento, enquanto fechamos os olhos bem acordados em revista à lista que ordenámos há minutos no caderno mais recente que nos tem acompanhado;

abrimos o armário e escolhemos criteriosamente a roupa adequada ao dia de decisões irrevogáveis; tudo condiz: desde os minúsculos brincos ao decote, aos sapatos, ao cinto e passando pela expressão que nos olha do espelho;

quando saímos de casa, fechamos, educadamente, a porta de forma audível; para que não haja sonho que se intrometa.

Saímos à rua.
Ouvimos uma ambulância ao longe.
Procuramos o carro, entramos, sintonizamos energia.
A fundo, seguimos.

……………………………………………………………………………………………….

Estacionamos e pensamos que é provável que não nos lembremos de onde o fizemos.
Seguimos pelo passeio indiferentemente.
Rodamos a chave 4 voltas, que impacientam, para entrar.
Aquecemos restos da véspera porque não nos apetece cozinhar sem amor.
Vamos para a cama e fazemos questão dos nos deitarmos a quase 1 metro e quarenta do caderno mais recente que nos tem acompanhado.
Apagamos a luz.

Fechamos os olhos. Em jeito de desacordar.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Tentativa, espero que útil, de exorcismo


Leio:

e·xor·cis·mo |z| substantivo masculino
1. [Religião católica]  Orações e cerimónias do prelado ou do sacerdote para ordenar ao demónio que deixe o possesso.
2. Preces para afugentar tempestades, insectos malignos, etc.
3. Esconjuro.
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
  

Ponto.


Porque há palavras e imagens que teimam em não sair da minha cabeça, penso para comigo que, se as escrever, pode ser que afugente “insectos malignos” (à falta de melhor definição, esta parece-me perfeita).

Há uns dias atrás, no carro (estou cada vez mais convencida que o carro e a proximidade-distância que ele impõe a quem o ocupa, é local bastante propício a conversas de vida, das complexas):
- Mãe. Eu não quero ficar de cama.
- …
- Eu não estou a falar de ficar NA cama porque estou doente ou assim. Estou a falar de ficar DE cama.
- Percebi, Maria.
- E isso não significa que me importo de ficar velhinha. Não. Só não quero nunca ficar DE cama todos os dias e precisar que me levem à casa de banho.
- (garganta em seco) Está bem, Maria. Mas, sabes, nós nunca sabemos quando isso vai acontecer…
- Velhinha, sim. De cama, não. Prefiro morrer primeiro.
- Está bem, Maria. Eu compreendi.

Não está mesmo nada bem, Maria. Esse poder de racionalização crua que obtiveste da observação e da percepção da grande diferença que existe entre o “ter anos” e o “estar vivo”, poderia ser um motivo de satisfação, mas não é.
Porque presente, cheio de dor e porque, quando o expões, posso dizer “Está bem.”, mas que nunca, nunca dependa de mim.



Penso:
Insectos malignos – Buuuuuu!!!!

"Mas eu não quero", digo, enquanto ouço falar de probabilidades.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Das esquinas-vida...



…a tristeza.

Por vezes, apresenta-se, descoberta, ao virar de uma qualquer esquina-viva; porque é vida - ora percorre planos, ora pisa escarpas - e não o fazemos sem nos cruzarmos com as esquinas-vida que constroem o acto simples de viver.
Não a esperávamos; podia lá estar, mas não se deixava ver; escondia-se entre dobras ou éramos nós que cegáramos.
Surpreende-nos com a força de mil pontadas de dor penetrante.
Por entre as esquinas-vida, somos por vezes tomados de assalto pela tristeza no seu estado mais cru. E, por ser completa, tomamo-nos de cobardia e contorná-la torna-se uma dor.


…a felicidade.

Por vezes, apresenta-se, descoberta, ao virar de uma qualquer esquina-viva; porque é vida - ora percorre planos, ora pisa escarpas - e não o fazemos sem nos cruzarmos com as esquinas-vida que constroem o acto simples de viver.
Não a esperávamos; podia lá estar, mas não se deixava ver; escondia-se entre dobras ou éramos nós que cegáramos.
Surpreende-nos com a força de mil pontadas de prazer penetrante.
Por entre as esquinas-vida, somos por vezes tomados de assalto pela felicidade no seu estado mais cru. E, por não ser completa, tomamo-nos de cobardia e contorná-la torna-se uma dor.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sobre os amores escorregadios


Deixam-se os amantes escorregar leito dentro como se se precipitando para refúgio de corpos que se desejam ainda mais ardentes.
Escorrega amante sobre amante; escorrega amante sob amante; em cadência que ora se precipita em aceleração compassada ora se contém lânguida para prolongar a vertigem do sentir profundamente os corpos redescobertos. De cada vez, redescobertos.
Fazem-se os amantes escorregar sobre os sexos, com os sexos, dentro dos sexos. Todas as porções do corpo são sexos.
Profundo:
mais fundo!
corre!
escorre-te!
deixa-me escorregar pelos sumos que me ofereces para matar a sede.
Deixa-me escorregar.
Deixa-me…

Os amantes escorregadios.
Também os há amores.