Aí há uns tempinhos, alguém me escreveu, a propósito dos
seus 2 primeiros sacais lidos (dois específicos e não muito recentes sacais): “realmente
só falta estabilidade, e talvez amor, para que a tua mensagem motive maior
deleite.”
Por estranha coincidência, no exactíssimo mesmo dia e a
propósito de um terceiro sacal (bastante mais recente), um outro alguém,
bastante distante do primeiro, escreveu (escreveu mais, bastante mais, aliás, à
semelhança do outro, mas, para este, transcrevo parte): “Mas não cales o teu
grito, mesmo que ele não seja ainda libertador. Lembra-te do outro que sabe que
não há caminho porque ele se faz caminhando. Ele, mais todos os outros poetas
que nunca ninguém ouviu, ouvirão o teu grito e não para o abafar – como tu
dizes – mas para gritar contigo num hino de Alegria que será só teu, para
depois ser de todos.”
Antes de mais, perdoem-me, L. e M., por usar e abusar das
vossas palavras e expô-las aqui em campo tão aberto. Não costumo fazê-lo (e
sabê-lo-ão todos os que já me dirigiram palavras contra-sacais). Mas, já sabem,
às vezes as palavras ficam-me bailando na cabeça e, mesmo quando aparentemente
estas não parecem ter nada em comum, começo a ligar linhas (que estarão mais na
minha mente que, possivelmente, na dos que emitem tais palavras) e foi o que me
aconteceu, desde esse dia até hoje (que foi ontem) e até hoje (que é hoje) e,
mesmo no presente, tenho ainda alguma dificuldade em conseguir expor todos os
jogos que a minha cabeça fez, em torno destas.
A Contestatária (que não Mafalda, de quem, aliás, sou
incondicional fã e que encarno, neste hoje que também foi ontem) não consegue
ficar indiferente às opiniões, aos comentários; às sobrelinhas que lhe chegam
e, também, pela coincidência - de data (ainda por cima não de tema-sacal), de
parte entrelinhada dos comentários – deixou-se embrenhar neles, porque
relevantes, decidiu - até por falta de tempo, agora já praticamente constante
em semana-sim e semana-não - que não iria (apesar de a minha cabeça correr para
aí) extrapolá-los à generalidade, mas que mereciam uma contra-contestação
atenta do “eu” que as assina.
Vai daí, dou por mim hoje (lá está o problema temporal do
“mas que dia é mesmo hoje”?) – noite de
semana-sim, deixando-os adormecer porta ao lado, depois dos
“10, 9, 8, …, 1, 0, descolar para dormir e sonhar com…
poesia”
“1, 2, 3, …, infinito, dezero, descolar para dormir e sonhar
com… música e dança”
já em vias de me fazer descolar a mim própria, dormir e
sonhar com o que me aparecer, a pensar o seguinte:
L., é à força da não-estabilidade e do desamor que (muitas) palavras me assaltam, mesmo quando a vida se me digna (ou eu a ela) como que a polvilhar-me de nuvens esbatidas de estabilidade e amor;
M., se eu conseguisse ver que haveria de haver voz que gritasse no meu caminhar um hino fosse ao que fosse – e, quem dera, à Alegria – não teria forças para gritar, muito alto, sem que ninguém ouvisse. Muito alto.
“Brusco”.
“Impertinente”.
“Tudo isto sem saber sequer se me irás ouvir.”
“Eu” ouviu-vos.
E, esta, quem assina é:
quem se há-de calar, nem que por instantes breves, por
brusquidão, impertinência, estabilidade, amor ou por encontrar a voz que – não a
abafe -, mas grite com ela.
Contestatária. Sempre.
Ou talvez não.
Mesmo que o hino não seja de todos; que seja só para mim.
Hoje, 3ª noite de semana-sim, foi:
“10, 9, 8, …, 1, 0, descolar para dormir e sonhar com… amor”
“1, 2, 3, …, infinito, dezero, descolar para dormir e sonhar
com… amor”