Sinto-me uma anti-frase. Aprecio mesmo ser do contra. Porque, quanto mais não seja, fomenta a discórdia em modo de diálogo. Puxa por nós ao ponto de nos obrigarmos a refutar. E a ouvir. E isso parece-me ser muito bom, nos dias em que quase nenhum de nós critica e, se o fazemos, é porque alguns muitos já o fizeram antes e nos sentimos mais à-vontade, acompanhados e, acaso contra-criticados, não estaremos sozinhos e teremos quem defenda connosco.
Uma série de infelizes circunstâncias me inibem de mostrar-me. Infelizes, porque representam vergonha de mim.
Mas continua o gozo do contra-argumento. Mesmo que só pensado. E, que melhor sítio para o sacaletalizar que este. O próprio.
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Um primeiro exemplo:
"Eu gosto de gente que sabe ser sol, mesmo quando a vida está nublada."
Sim. Eu amo a minha M.
Mas...
Eu também me debato por conhecer as tuas nuvens, mesmo quando a vida está soalheira; e como elas se moldam e mudam de cor, conforme o vento ou a pressão atmosférica ou o grau de humidade. E de percorrer seus contornos e tons e me aventurar na interpretação do que os faz mudar, contorcerem-se ou continuarem quase estáticos, em forma, mas em translação até escurecerem ou se desvanecerem. E recorro a instrumentos de ciência exacta: para medir altitudes, velocidade de vento, ângulos em relação ao desnorte. Desenho-te em tuas diversas posições reconhecidas por mim e outras e faço por as transpor para as nuvens que constróis e escondes; porque está sol e tu sabes bem sê-lo, mesmo quando te enublas.
E eu quero-te nuvem.
Para a interpretar.